A brevidade do nosso tempo e a longa marcha do tempo Histórico
São tempos complexos e assustadores que se vivem hoje, mas que nos remetem, inevitavelmente, para a triste realidade de um permanente estado de guerra no planeta. Só pensando nas últimas décadas, podemos facilmente concluir que não houve um só ano em que não existisse um conflito armado, algures no mundo.
Pretextos étnicos, religiosos, redefinição de fronteiras impostas a regra e esquadro anteriormente, tudo não passa exatamente de pretextos para o eclodir de conflitos que têm na geopolítica e nos interesses económicos as verdadeiras motivações que lhes erguem os inícios e alimentam as continuidades. Por isso é impossível, após um olhar mais atento pelos corredores da História, perceber que, lamentavelmente, parafraseando José Couto Nogueira, a guerra tem sido uma actividade constante da espécie humana. E as vidas humanas perdidas, a destruição das terras, das economias, o adiamento do futuro para gente cuja mortalidade não lhes permite esperar, os golpes de misericórdia num já periclitante equilíbrio ambiental, revelados com cada vez maior exploração mediática, são consequências irreversíveis que parece todos esquecerem e relativizarem passados os primeiros impactos.
Quem já fala sobre a Síria ou da Somália ou de tantos outros focos que se mantêm acessos há anos?
São nestas alturas, de maior mobilização emocional, que procuramos respostas no longo tempo da História numa tentativa de encontrar o fio da racionalidade na insana marcha autodestrutiva do ser humano. Entender o impossível e perceber o inaceitável, leva-nos a uma demanda bibliográfica numa frustrada tentativa de encontrar o “início”. Facilmente damos conta que o caminho dos Homens é sinuoso e confuso, cheio de um complexo e intricado labirinto de ligações. Mas nessa jornada pelo passado a humanidade acaba por surpreender-se num reencontro consigo mesma a séculos de distância. Semelhanças difíceis de aceitar, são reveladas e então o difícil de admitir agiganta-se de forma inevitável diante os nossos olhos: a evolução humana parece não ter ido além da capacitação tecnológica. O que se suspeitava, parece tornar-se evidente: a História do Homem mostra com evidência cristalina que o progresso que ainda não foi atingido é o da elevação moral e ética, a dimensão íntima e profunda da alma humana. A alma, do latim animu ou anima ou seja, “o que anima” considerada assim como a própria vida, é a essência que nos distingue das máquinas, da formatação computorizada, da robotização da existência. A gota mágica que dota cada gesto e pensamento de bondade genuína, de humildade diante o outro e o planeta, de compromisso com o presente e o futuro, de pacto com o conhecimento e a felicidade. A alma vincula-nos com a verdade e o equilíbrio e deveria impedir actos atrozes e brutais. Então, por que razão o Homem continua a violentar-se ao fim de tantos milhares de anos de existência? Por que razão conseguimo-nos transportar à lua e observar de forma tão deslumbrante o universo e não conseguimos a viagem da transcendência humana na Terra?
A família e a Escola, com esta última a assumir nos últimos séculos um espaço primordial da educação dos indivíduos, não parece andarem a cumprir bem os seus papéis. A simetria entre os mundos chamados desenvolvidos e os que se ancoram no esgravatamento da maior das misérias, onde a sobrevivência se encontra em lixeiras e águas putrefactas, mostra-nos a faceta hipócrita de um mundo desumano que encolhe os ombros e finge que não existe o que de facto acontece, mas revela-nos, uma vez mais que algo de profundamente errado se passa na Educação das sociedades. Os constantes conflitos bélicos são outros indicadores do fracasso da Educação moral da humanidade.
No mundo chamado ocidental tem-se assistido a uma inaudível afirmação de alguns equívocos na educação parental e escolar sustentado num paradigma que pode tornar-se falacioso e perverso “a criança/jovem” como centro de tudo! Vejamos, ninguém tem que ser o centro para que lhe sejam reconhecidos direitos e deveres decorrentes da idade e condições específicas. As fragilidades inerentes aos mais novos e aos mais velhos, é um dado inquestionável. O que já é questionável é o que se entende e pretende quando se coloca um grupo, seja pela idade, seja pelo género, seja por qualquer outro motivo, como o centro das nossas preocupações. Induzir a crença de um protagonismo que colide com a ideia da solidariedade e da educação para e na igualdade, pode ser o efeito perverso que não desejamos que aconteça.
Muito temos aqui escrito sobre uma Escola que se tem alicerçado em pilares perigosos e de frágil sustentação. Um edificado que não nos augura nada de bom para o futuro e onde disciplinas que são os pulsares da humanidade como a História, a Filosofia, as Artes e a Literatura têm vindo a perder de forma infame importância. Inversamente o facilitismo, o pressuposto que tudo terá que se adaptar ao estudante e aos seus interesses, o baixar critérios de rigor e exigência para barreiras rasteiras e medíocres, tem alimentado a preguiça, a desmusculação do esforço, do empenho, do envolvimento e criado um despudor avassalador. Alunos que revelam sem qualquer sinal de constrangimento que não estudam, alunos que se olham pelos écrans do tlm, que ensaiam a vida no teclar dos Tik Toks e do instagram, são alunos que não cultivam o saber, que não se alimentam de conhecimento, que não problematizam a vida nem o significado das suas existências.
E isto deve-nos fazer soar todas os sinais de alarme porque só com a Educação o mundo se constrói. Importa saber que “Educação” queremos e precisamos!
Paula Timóteo