Nos 150 anos de Palmira Bastos I A Grande Senhora dos Palcos
Palmira Bastos teve uma carreira de grande longevidade, das maiores de sempre a nível mundial. A artista estreou-se nos palcos com 15 anos, em 1890, no teatro da Rua dos Condes, na opereta “Reino das Mulheres”. Rapidamente se impõs como actriz ao lado de Augusto Rosa, Eduardo Brasão, Virginia, Lucinda Simões, Chaby Pinheiro e Ângela Pinto. Da jovem, rapidamente intitulada “Grande Palmira”, afirmava-se que “quando está na ópera-cómica, faz falta ao drama, quando está no drama falta à ópera-cómica”.
“A Grã-Duquesa”, ”O Burro do Senhor Alcaide”, ”As Georginas”, “A Severa”, “A Conspiradora”, “Mademoiselle”, “Uma Mulher Extraordinária”, “Leonor Teles”, “Ciclone” foram alguns dos grandes êxitos da artista.
Ao longo de uma carreira de 76 anos, Palmira Bastos fez drama, comédia, opereta e revista. Era dententora de um enorme talento, de uma versatilidade rara, de um profundo profissionalismo e de um amor ao teatro sem limites.
Palmira Bastos tinha uma comunicabilidade única com o público de todas as gerações e classes sociais, que enchiam as salas onde representava. No Brasil teve enormes êxitos, fazendo dezenas de tournée desde 1900. “A minha mãe era muito admirada, chegavam a tirar os cavalos do break e puxarem-no braçalmente entre o teatro e o hotel”, disse Amelia Bastos Moreira da Cruz: “Ela voltou em 1960 e foi longamente homenageada com recepções e descerramentos de placas”.
Palmira Bastos recebeu inúmeros prémios e condecorações, caso da ordem de Santiago e de Cristo, da medalha de ouro da cidade de Lisboa, no Brasil, das ordens do Cruzeiro do Sul e Cidadã Carioca.
“Representámos pela primeira vez em 1922, depois tivemos uma camaradagem adorável de mais de 40 anos. Ela foi tudo ao meu lado, a grande intérprete, a grande amiga que me acompanhou em horas más, sempre muito solidária, e também em horas gloriosas, magníficas”, destacou Amélia Rey Colaço.
A artista recusava invariavelmente os convites de Leitão de Barros para fazer cinema, afirmando que “passada pela máquina não dava nada“. Dela ficou-nos apenas o filme mudo “O Destino”, e a gravação do seu derrradeiro êxito, “As Árvores Morrem de Pé”, feita pela RTP em 1965. Anos antes, em 1956, declinou gravar p a célebre comédia “Avó Lisboa”, onde contracenava com Vasco Santana.
Palmira Bastos casou cedo com o jornalista e empresário teatral António de Sousa Bastos, com quem teve duas filhas e um casamento harmonioso até á morte dele em 1911. Numa carta, o marido escreve “À minha querida e santa mulher, modelo das esposas, espelho das mães e exemplo das artistas”.
A filha Amélia de Sousa Bastos estreou-se como actriz em “Porque Sim”, em 1923, mas casou e desistiu da carreira; a outra filha Alda passou toda a vida com a mãe, desaparecendo em 1965. Numa entrevista, a actriz confessa: “Represento, então, esquecendo-me de mim própria e da minha idade, destes anos todos de desilusões, de desgostos. Os momentos mais felizes da minha vida foram aqueles em que ouvi as primeiras palmas e em que fui mãe.”
Palmira Bastos era uma espectadora assídua dos teatros, mantendo-se actualizada sobre os novos actores e as novas correntes de representar. Os artistas que contracenaram com ela, como Lourdes Norberto e Cecília Guimarães, recordam-na como extremamente versatil, uma ensaiadora brilhante e uma colega rigorosa, atenta e dedicada.
Em 15 de Dezembro de 1966, a actriz apareceu pela última vez na festa de despedida do actor Raul de Carvalho na reposição de “Ciclone”. Pouco depois sofreu um AVC. Na cliníca onde passou os derradeiros três meses, insistia que “haveria de voltar ao teatro, nem que fosse numa cadeiras de rodas, e que desejava morrer de pé como as árvores”.
A actriz desaparece em 10 de Maio de 1967. No velório na Basílica da Estrela milhares de admiradores despediram-se da “Grande Palmira” – que marcara profundamente a arte de representar durante 75 anos.
António Brás