Itália Renascentista I A Importância das Mulheres

Itália Renascentista  I A Importância das Mulheres 

O Museum of Fine Arts, Boston, apresenta uma exposição de 9 de Setembro de 2023 a 7 de Janeiro de 2024, onde destaca as histórias não contadas da criatividade e do poder das mulheres na Itália Renascentista

A história do Renascimento italiano há muito tempo é contada por meio das realizações de homens célebres. Neste Outono, o Museum of Fine Arts, Boston (MFA) expõe uma grande mostra que muda o foco para as histórias e experiências das mulheres durante esse período de imensa criatividade. “A Importância das Mulheres s na Itália Renascentista” apresenta cerca de 100 obras de arte – esculturas, pinturas, cerâmicas, têxteis, livros ilustrados e gravuras – em grande parte originárias da colecção do Museum of Fine Arts, Boston (MFA), juntamente com oito empréstimos importantes da British Library, do Dayton Art Institute, do Bowdoin College Museum of Art, do Jewish Museum, do Boston Athenaeum e de uma colecção privada. Estes objectos reúnem obras, que datam do século XIV ao início do século XVII, e de artistas célebres como Sofonisba Anguissola, Artemisia Gentileschi e Lavinia Fontana. Esta arte foi encomendada ou coleccionada por mulheres, como a influente mecenas Isabella d’Este, com representações de figuras históricas, bíblicas e mitológicas como a antiga rainha egípcia Cleópatra, a santa Maria Madalena e a feiticeira Medeia.

A Exposição

A exposição foi organizada em secções temáticas, onde destaca as várias facetas e complexidades da vida das mulheres da Renascença – oferecendo novas perspectivas sobre a criatividade, o poder e a actividade feminina.

Acerca deste acontecimento, a Curadora da Mostra Marietta Cambareri, Curadora Sénior de Escultura Europeia e Jetskalina H. Phillips Curadora da Judaica, disseram: “A capacidade de apresentar esta visão alargada da experiência das mulheres na Itália Renascentista, utilizando objectos quase exclusivamente da própria colecção do Museum of Fine Arts, Boston (MFA), é gratificante – e até surpreendente. Mostra que as histórias das mulheres estão aí para serem descobertas, se apenas olharmos”.

Geralmente limitadas aos papéis de filhas, esposas e mães, as mulheres da Itália Renascentista enfrentaram desafios e barreiras à igualdade, à educação e à influência – mas encontraram frequentemente formas de contornar as estruturas institucionais da época. As mulheres tornaram-se artistas, escritoras, poetas, musicistas e cantoras, actuavam como mecenas e encomendavam obras de arte. As viúvas tornavam-se frequentemente chefes de família.

As mulheres eram responsáveis pela gestão dos lares, pelo controlo das finanças e pelos negócios da família. Nos conventos, as mulheres aprendiam a fazer rendas, bordados e outros trabalhos manuais, dando grandes contributos para a indústria têxtil – uma das áreas mais lucrativas da manufatura da época. Em casa, elas criavam remédios para doenças comuns e serviam de guias espirituais para as suas famílias. As obras expostas de Mulheres Importantes na Itália Renascentista realçam estes múltiplos papéis, revelando um sentido muito mais rico da forma como as elas moldaram as suas próprias vidas e influenciaram as vidas dos que as rodeavam.

Os principais destaques da exposição incluem obras pequenas, mas importantes de quatro das mais conhecidas mulheres artistas do Renascimento italiano. Artemisia Gentileschi (1593-depois de 1654), Lavinia Fontana (1552-1614) e Barbara Longhi (1552-cerca de 1638) eram todas filhas de artistas, aprendendo o ofício nos ateliers da família. “O Menino Jesus Adormecido” de Gentileschi (1630-1632) e a “Madona e o Menino” de Longhi são obras. novas na colecção do Museum of Fine Arts, Boston (MFA)  – foram adquiridas como parte do esforço contínuo do Museu de Boston  para coleccionar mais pinturas europeias de mulheres. 

Fontana, que se tornou chefe da oficina da sua família – um acontecimento extremamente raro para uma mulher – é representada pela “Virgem Adorando o Menino Jesus Adormecido” (cerca de 1605/10), uma imagem amorosa em três pequenos painéis com uma forma invulgar de cúpula. 

Sofonisba Anguissola (cerca de 1532-1625) não cresceu no seio de uma família de artistas, mas serviu na corte do rei Filipe II de Espanha e pintou mais auto-retratos do que qualquer outro artista da Itália Renascentista. O seu Auto-retrato (cerca de 1556), de cerca de 26 anos de idade, mostra-a a segurar um grande objecto semelhante a um escudo, com a sua assinatura inscrita de forma ousada.

Outras obras significativas incluem um busto de Cleópatra em bronze (cerca de 1519/22), realizado por Pier Jacopo Alari Bonacolsi (cerca de 1460-1528), que apresenta a rainha egípcia como uma figura heróica e tranquila, e não como uma mulher perigosa e sedutora de homens. É muito provável que o busto tenha sido encomendado por Isabella d’Este, marquesa de Mântua , uma das mais importantes mecenas e coleccionadoras da Itália do início do século XVI. Um prato de maiólica de Nicola da Urbino (activo em 1520, falecido em 1537/38) que retrata a história de Perseu e Andrómeda faz parte de um serviço de jantar, que foi encomendado pela filha de Isabel, Eleonora Gonzaga, Duquesa de Urbino, como presente para a sua mãe. Não só permitia a Eleonora partilhar com a família a melhor arte que a corte de Urbino tinha para oferecer, como também mostrava a sua própria posição como duquesa de uma das cortes mais ilustres de Itália – uma mecenas por direito próprio e não apenas a filha da sua mãe.

Entre as obras mais importantes conta-se com um Livro de “Oração Hebraico” (1469, British Library) que foi ilustrado por Joel ben Simeon, um dos mais importantes artistas e escribas judeus activos na Itália do século XV. Feito para um pai e a sua filha, Maraviglia, o livro inclui uma série de ilustrações de uma jovem mulher a rezar e a realizar rituais religiosos – uma representação única das experiências das mulheres judias na Itália Renascentista. O papel central das mulheres na prática da devoção em casa é também abordado no Retrato de uma viúva (cerca de 1585, Dayton Art Institute) de Ludovico Carracci (1555-1619), que mostra uma mulher em trajes de luto a encontrar conforto na sua fé católica e a fornecer um exemplo de piedade.

A história do Renascimento em Itália é frequentemente contada através da obra de grandes artistas masculinos, como Miguel Ângelo, Rafael, Donatello e Leonardo. Mas o que dizer da metade feminina da população? Ao explorar obras feitas por, para ou sobre mulheres, esta mostra pretende reconsiderar um período de engenho criativo e excelência artística a partir da sua perspetiva, frequentemente negligenciada.

Com base na rica colecção de pinturas, cerâmicas, têxteis, livros ilustrados e gravuras do Museu de Boston. Este acontecimento centra-se em imagens do poder feminino, tanto sagradas como seculares, contando as histórias de santas como Maria Madalena como exemplos de força e devoção ascética, heroínas bíblicas como Judite como modelos cívicos e domésticos, e a mítica feiticeira Medeia como o ideal de um nu heroico. As mulheres também afirmaram a sua presença como artistas, artesãs e mecenas: Sofonisba Anguissola, Lavinia Fontana, Artemisia Gentileschi, Vittoria Colonna, Isabella d’Este e Eleonora Gonzaga são apenas algumas das mulheres fortes que moldaram a vida e a arte do Renascimento italiano.

Theresa Bêco de Lobo

Theresa Bêco de Lobo

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