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Mark Rothko I Na Foundation Louis Vuitton, Paris

Tornei-me pintor porque queria elevar a pintura ao nível da grandeza da música e da poesia.” Mark Rothko

A 18 de Outubro de 2023, a Foundation Louis Vuitton, em Paris apresenta a primeira retrospetiva em França dedicada a Mark Rothko, (1903-1970) desde a última exposição realizada no Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris em 1999. A mostra reúne cerca de 115 obras provenientes das maiores colecções institucionais e privadas internacionais, incluindo a National Gallery of Art em Washington D.C., a família do artista e a Tate em Londres. A exposição é apresentada de forma cronológica em todos os espaços da Foundation, este acontecimento percorre toda a carreira do artista: desde as suas primeiras pinturas figurativas até às obras abstractas pelas quais é hoje mais conhecido.

A mostra começa com cenas íntimas e paisagens urbanas – como as visões do metro de Nova Iorque – que dominam a produção de Rothko na década de 1930, antes da sua transição para um repertório inspirado em mitos antigos e no surrealismo, que Rothko utiliza para exprimir a dimensão trágica da condição humana durante a Segunda Guerra Mundial.

Biografia

Mark Rothko com o nome (em russo Марк Ро́тко) nasceu na Rússia numa família judaica, depois emigrou com a mãe e a irmã para Portland (Oregon)nos Estados Unidos da América, em 1913, para se reunir ao pai e aos irmãos. Fez os seus estudos no Lincoln High School de Portland, depois na Universidade Yale. Em 1934, fundou a Artist Union de Nova Iorque. Em 1940 adoptou o nome “Mark Rothko”, dois anos após ter obtido a nacionalidade americana.

De acordo com os seus amigos, Mark tinha uma natureza difícil, profundamente ansioso e irascível. Foi na década de 1950, que a sua carreira verdadeiramente se destacou, graças sobretudo ao coleccionador Duncan Philips que lhe comprou vários quadros e, após uma longa viagem do pintor à Europa, consagrou uma sala inteira à sua colecção (um sonho de Rothko, que desejava que os visitantes não fossem perturbados por outras obras).

A década de 1960 foi para Rothko um período de grandes encomendas públicas – desde Universidade Harvard, à Marlborought Gallery de Londres, até à capela em Houston). Mas este impulso criador e de reconhecimento foi interrompido por um aneurisma de aorta – doença incapacitante que o impediu de pintar em grandes formatos.

Mark foi reconhecido na Europa e na América pelo seu papel no desenvolvimento da arte não-representativa. Rothko era um intelectual, um homem extremamente culto que amava a música e a literatura e era muito interessado pela filosofia, em particular por Nietzsche e pela mitologia grega. Influenciado pela obra de Henri Matisse – a quem ele homenageou numa das suas telas – Rothko ocupou um lugar singular na Escola de Nova Iorque.

O pintor após ter experimentado o expressionismo abstracto e o surrealismo, ele desenvolveu, no final dos anos 1940, uma nova forma de pintar. Hostil ao expressionismo da “Action Painting”, Mark Rothko  inventou uma forma meditativa de pintar, que o crítico Clement Greenberg definiu como “Colorfield Painting” (“pintura do campo de cor”).

Mark nas suas telas, exprimiu-se exclusivamente por meio da cor em tons indecisos, em superfícies moventes, às vezes monocromáticas e às vezes compostas por partes diversamente coloridas. Ele atingiu assim uma dimensão espiritual particularmente sensível.

Rothko separou-se da sua mulher no verão de 1937, em seguida ao sucesso de Edith no ramo das joias. Aparentemente, ele não tinha prazer em trabalhar com sua mulher e se sentia ameaçado pelo seu sucesso financeiro. Edith e ele se reconciliaram no Outono, mas a relação permaneceu difícil.

Em 21 de Fevereiro de 1938, Rothko obteve a nacionalidade americana, incitado pelos seus medos de que a influência nazista, crescente na Europa, pudesse provocar a deportação de judeus americanos. A aparição de simpatizantes do nazismo nos Estados Unidos aumentou os seus temores; em Janeiro de 1940, adoptou o nome Mark Rothko. A partícula “Roth” era identificada como judaica.

Após o pacto germano-soviético entre Hitler e Stalin, em 1939, Rothko, Avery Gottlieb e outros deixaram o Congresso dos artistas americanos em sinal de protesto contra a aproximação do congresso com o comunismo radical. Em junho, ele forma com outros artistas, a Federação dos pintores e escultores modernos, cujo objectivo era manter a arte isenta de propaganda política.

Inspiração nietzscheana

Um livro crucial para Rothko foi “O Nascimento da Tragédia” de Friedrich Nietzsche. A nova visão de Rothko tentava dirigir-se às exigências da espiritualidade do homem moderno e às exigências criativas mitológicas, como Nietzsche, clamando que a tragédia grega é uma tentativa humana de compensar os terrores de uma vida mortal. Os objectivos artísticos modernos deixaram de ser importantes para Rothko e a sua arte teria como finalidade, aliviar o vazio espiritual fundamental do homem moderno; um vazio criado pela ausência de uma mitologia voltada corretamente “ao crescimento de um espírito infantil e (…) para a vida e as lutas de um homem” e para fornecer o reconhecimento estético necessário à liberação das energias inconscientes, precedentemente liberadas pelas imagens, símbolos e rituais mitológicos.

Rothko considerava-se como um “realizador de mitos”. “A experiência trágica fortificante” escreveu ele, “é para mim a única fonte de arte”.

A partir de 1946, Rothko faz uma importante viragem para o expressionismo abstracionista. A primeira fase desta viragem é a das “Multiformas”, onde massas cromáticas são suspensas numa espécie de equilíbrio sobre a tela. Progressivamente, estas diminuem em número, e a organização espacial da sua pintura evoluiu rapidamente para as obras “clássicas” de Rothko dos anos 50, onde formas rectangulares se sobrepõem segundo um ritmo binário ou ternário, caracterizado por tons de amarelo, vermelho, ocre, laranja, mas também azul, branco…

Em 1958, Rothko foi encarregue de realizar um conjunto de pinturas murais para o restaurante “Four Seasons”, projectado por Philip Johnson para o edifício Seagram em Nova Iorque – cuja construção foi supervisionada por Ludwig Mies van der Rohe. Mais tarde, Rothko decide não entregar os quadros e fica com toda a série. Onze anos mais tarde, em 1969, o artista doa nove destes quadros – que se distinguiram dos anteriores pelos seus tons vermelhos profundos – à Tate, que dedicou uma sala das suas colecções exclusivamente a Rothko. Esta série é apresentada de forma excepcional na exposição da Foundation Louis Vuitton.

Em 1960, a Phillips Collection dedica uma galeria permanente – a primeira “Sala Rothko” – ao artista. A sala foi concebida em estreita colaboração com o artista e foi também apresentada na exposição. 

Em 1961, o Museum of Modern Art de Nova Iorque organizou a primeira grande retrospetiva, uma exposição que posteriormente viajou para várias cidades europeias (Londres, Basileia, Amesterdão, Bruxelas, Roma e Paris). Na década de 1960, Rothko aceitou outras encomendas, nomeadamente a capela fundada por John e Dominique de Menil em Houston, inaugurada em 1971 e denominada “Rothko Chapel”.

Embora Rothko privilegiasse os tons mais escuros e os contrastes suaves desde o final dos anos 50, o artista nunca abandonou completamente a sua paleta de cores vivas, como se pode observar nas várias pinturas de 1967 e o último quadro vermelho deixado inacabado no seu atelier. Mesmo no caso da série Preto e cinzento de 1969-1970, associando o cinzento e o preto à depressão e ao suicídio. Rothko cometeu suicídio em 25 de Fevereiro de 1970 em plena depressão.

Estas obras são expostas na sala mais alta do edifício Frank Gehry da Foundation Louis Vuitton, em Paris ao lado das figuras escultóricas de grande escala de Alberto Giacometti, criando um ambiente próximo do que Rothko tinha em mente para uma encomenda da UNESCO que nunca foi realizada.

A permanência do questionamento de Rothko, o seu desejo de diálogo sem palavras com o espectador e a sua rejeição em ser visto como um “colorista” são elementos que permitem uma nova interpretação da sua obra multifacetada nesta exposição – em toda a sua verdadeira pluralidade.

Theresa Beco Lobo

Theresa Bêco de Lobo

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