Camilo e o Amor de Perdição
Ela tinha 15 anos e ele 17. A atracção que, de súbito, os tomou foi imparável. A oposição das famílias e do meio, tornou-a trágica. Impressionadíssimo com ela, Camilo Castelo Branco fez do seu caso o romance português mais popular de sempre.
Esta história leu-a Camilo Castelo Branco nos registos da Cadeia da Relação, no Porto, onde se encontrava detido. O caso de Simão Botelho tem como base real um tio paterno de Camilo.
O escritor atravessava nessa altura uma situação parecida: apaixonara-se por Ana Plácido, que abandonou o marido, Pinheiro Alves, para viver maritalmente com ele, em Lisboa.
Acabaram ambos por ser presos devido ao processo judicial que lhes foi movido.
Camilo escreveu Amor de Perdição em quinze dias, os mais atormentados da sua vida. O êxito que a obra obteve deixou-o perplexo, pois considerava-a um romance menor. Após um ano de cadeia, Camilo e Ana Plácido são julgados e absolvidos. Vêm viver para lisboa, mas pouco depois, em 1863, fixam-se definitivamente na quinta de Sã Miguel de Seide, Neste local escreveu a maioria da sua obra e desapareceu em 1890. A casa é aberta ao público em 1916. É a primeira casa-museu portuguesa, onde se guarda parte da biblioteca, mobiliário, pinturas, gravuras, cerâmicas e outros objectos pertencentes a Camilo.
Casa-Museu
A Casa-Museu Camilo Castelo Branco mantêm uma ambiência típica da segunda metade 1800. Os interiores refletem uma casa aldeã de lavradores abastados. Os visitantes podem percorrer as inúmeras divisões da casa, que as zonas nobres, quer as áreas de serviço, bem como a quinta anexa. Nas proximidades, o Centro de Estudo Camiliano, fundado 1987 e transferido para Ceide em 2002, guarda uma extensa biblioteca, autógrafos, manuscritos, icongrafia sobre Camilo. O edifício, projectado por Siza Vieira, possui uma biblioteca, salas de exposições, auditório, gabinetes de apoio a investigadores e um espaço de alojamento. Pouco depois da morte do escritor começaram a surgir os entusiastas da sua obra. Através de jornais, de ensaios, de ficções emergiram, com efeito, nomes a realçar a importância da sua obra, Esse movimento não parou. Romancistas posteriores como Agustina Bessa-Luís ou Alexandre Cabral, assumem a influência, o fascínio que ele exerceu nas suas vidas. Além de núcleos universitários específicos, quer em Portugal, quer no estrangeiro, evidenciam-se as Camilianas da Biblioteca Nacional, da Biblioteca Municipal de Sintra e do Real Gabinete de Leitura do Rio de Janeiro, onde, aliás, se encontra o manuscrito de Amor de Perdição. Camilo tornou-se uma figura lapidar da nossa cultura, e São Miguel de Ceide o seu universo.
António Brás