Manuel Teixeira Gomes I O grande coleccionador
Viajante incansável, Teixeira Gomes foi um homem verdadeiramente excepcional como diplomata, presidente da República, escritor e coleccionador.
Embaixador português em Londres após a proclamação da República, ele desempenhou essas funções em tempos complexos, como chefe-de-estado sofreu as agruras de um tempo instável, como escritor revelou uma enorme plasticidade visual.
A faceta de colecionador, finalmente estudada e revelada numa enorme exposição no Museu de Lisboa, revela-se surpreendente. Detentor de caráter eclético, Teixeira Gomes reuniu um conjunto de peças de caracter plástico e decorativo de grande valor.
Esse conjunto, adquirido em antiquários e leilões de Lisboa, Londres e Paris, decorou a embaixada portuguesa na capital inglesa e a casa da Giribita, em Caxias, residência do político.
Ao partir para o exílio em 1925, Teixeira Gomes nunca mais voltará a Portuguesa, fixando-se na Argélia, onde desaparece em 1841, aos 81 anos.
A colecção seria em sua vida, caso raro entre nós, espalhada, entre 1925 e 1941, por diversos museus nacionais, ficando uma diminuta parte na posse das filhas.
A colecção pictórica revela-se típica do gosto de fim de século cosmopolita e diversificado, exemplificando o romantismo, o naturalismo e o realismo.
O núcleo doado ao Museu do Chiado inclui pintura portuguesa, espanhola, belga, francesa e inglesa que abrangem paisagens, retratos, cenas de costumes e aturezas-mortas. Os nomes de Henri Harpignies, Mariano Fortuny, Galofre y Gimenez, Alfred Stevens, William Etty, Léon Henri Anoine Loire, Sir Wdwin Henry Landseer, Fantin-Latour exemplificam um gosto internacional pouco habitual entre os colecionadores portugueses,
Ao obras doadas ao Museu Soares dos Reis são peças excepcionais. O Retrato de Elisa Wilfride, da autoria do Visconde de Meneses, é uma pintura marcante do romantismo, enquanto o Retrato de Teixeira Gomes, de Marques de Oliveira, é um óleo marcante do naturalismo.
Arte oriental
Manuel Teixeira Gomes tinha especial apreço pela arte chinesa e japonesa de que foi um colecionador rigoroso e sabedor. Esse núcleo, doado ao Museu Machado de Castro, é composto por 996 inros, frasquinhos de rapé e guardas de espada, está depositado no Museu do Oriente, em Lisboa, sendo considerado de enorme raridade.
As compras prolongaram-se entre 1912 a 1923, escrevendo Teixeira Gomes que “esses objectos chineses constituem um definitivo compêndio de todos os ramos da arte chinesa”.
Espirito eclético
O colecionador acabou por entregar obras mais recuadas a outras instituições.
O Museu de Arte Antiga recebeu o Retrato de Philipp Melanchthon, atribuído a Lucas Cranach, o jovem (1515-1566), obra preservada nas reservas, dadas as dúvidas da sua autoria.
O Museu dos Coches foi beneficiado por uma pintura retratando D. Catarina de Bragança, outrora atribuída a Josefa de Óbidos, actualmente classificada como da escola portuguesa do século XVII.
O Museu de Lisboa acolheu mobiliário português e inglês, bem como a tela “Torre de Belém” de John Thomas Serre.
O Museu Castro Guimarães teve um samovar império em casquinha, provavelmente a mais simbólica doação.
A colecção Teixeira Gomes revela um raro gosto internacional entre nós.
António Brás