Canova em Lisboa

Canova em Lisboa

No interior de um dos mais imponentes maosóleos erguidos em Portugal preserva-se um alto-relevo de autoria do maior escultor neoclássico italiano António Canova. Trata-se de uma obra-prima de grande expressividade e beleza, executada em mármore puríssimo de Carrara, que o autor criou entre 1805 a 1808, na mesma altura em que fez o célebre retrato de Paula Bonaparte, irmã de Napoleão, hoje na Galeria Borghese. 

O contrato para o monumento de Lisboa foi assinado em 8 de Julho de 1805, preservando-se os desenhos preparatórios no Museu de Bassano.

A escultura representa uma mulher (carpideira) a chorar debruçada sobre o busto de um homem. Este é Alexandre de Sousa Holstein, embaixador de Portugal na Santa Sé, onde faleceu em 1803.

O monumento, um cenotáfio, assinala o túmulo onde deveriam estar os restos mortais do homenageado. Eles nunca chegaram, no entanto, a ser trasladados da Igreja de Santo António dos Portugueses, em Roma.

Durante quase dois séculos pensou-se que a escultura fosse uma obra da oficina de Canova e que o original se encontrasse em Itália. Mas especialistas romanos esclareceram a verdade – e tentaram adquirir a preciosidade por dois milhões de euros para um museu italiano. Actualmente vale cinco milhões de euros.

“Disseram-me que caso o negócio se concretizasse fariam uma réplica de resina sintética e que ninguém notaria a diferença”, revelou-nos Manuel Holstein Beck, descendente do Alexandre de Souza Holstein. “Recusei imediatamente a proposta”, acrescentou-nos, “e resolvi doar o mausoléu à Câmara Municipal de Lisboa, com a condição de o conserver e de nele  serem sepultados os meus descendentes”.

O panteão, mandado construir pelo primeiro duque de Palmela ficou concluído em 1848, sendo considerado dos mais imponentes da Europa. Desde então alberga os restos mortais de sete gerações da família dispostos pela capela e por duas criptas; o espaço exterior era destinado exclusivamente ao pessoal da Casa Palmela, as mulheres ficavam sepultadas do lado esquerdo, os homens do lado direito.

Hoje o panteão dos Palmela, restaurado pelo município de Lisboa, revela-se um monumento único. O mausoléu, desenhado pelos arquitectos Cinatti e Rambois, construído pelo canteiro Germano José de Sales, tem esculturas de Araújo Cerqueira (um artista romântico que trabalhou essencialmente para a casa-ducal), de António e José Teixeira Lopes, de Calmels com um medalhão (inicialmente uma medalha comemorativa dos 50 anos de casamento dos V Duques de Palmela) de Leopoldo de Almeida. 

A estela de Canova dos Prazeres é a única obra saída da mãos de Canova existente em Portugal. O Museu Gulbenkian possui a peça “Hermes da Vestal Tucia”, obra da oficina do escultor, e o Museu de Arte Antiga guarda um pequeno modelo em barro cozido dedicado ao “Génio da Independência da Nação Portuguesa”, encomendado a Canova que nunca foi passado a mármore por desinteresse do governo português. 

António Brás

António Brás

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