Tesouro real em livro

Tesouro real em livro

Um dos grandes acontecimentos culturais do ano passado foi a inauguração do Museu do Tesouro Real.

A recente edição de um livro, editado pela Imprensa Nacional, culmina o projecto e torna público o maior estudo, realizado por inúmeros investigadores, especialistas e historiadores, da ourivesaria e joalharia da Casa de Bragança.

O projecto do Museu do Tesouro Real é inovador, moderno e grandioso. A sua equipa desenhou uma impressionante museologia, valorizando e complementando o acervo – que constitui a principal colecção existente entre nós.

Do núcleo de cerca de 1000 peças de ourivesaria e joalharia, a equipa escolheu centenas de peças que abrangem um arco temporal dos séculos XVI ao XIX.

A joalharia inicia-se no século XVIII, estando marcada por forte presença das peças de representação e de aparato, com predomínio da coroa-real, dos ceptros e das chamadas jóias de cerimónia

No século XVI predominam as salvas, fruteiros e travessas, uma  galeria de obras de grande valor, consideradas as obra-prima da ourivesaria portuguesa de todos os tempos.

Uma salva quinhentista de provável prateiro de Lisboa, da antiga colecção da Casa de Bragança, recentemente adquirida ao antiquário Mário Roque, por 500 mil euros, veio colmatar e enriquecer o núcleo.

O século XVIII é marcado por forte influência francesa. O Baixela Germain evidencia as encomendas reais, fazendo parte dos grandes banquetes realizados em Portugal desde o século das luzes até aos nossos dias. É um ponto alto neste sector.

A lacuna (da fraca representação das jóias de uso feminino de grande aparato) foi colmada pelo depósito por um colecionador suíço, da excepcional tiara de D. Maria II. A obra, uma das raras tiaras existentes ainda em poder de privados, – as restantes integram as antigas colecções do Rei da Suécia e Duque de Bragança.

O período de 1800, onde se nota  o revivalismo, é marcado pelas jóias de Castellani, sublinhando-se a recente aquisição de um raro alfinete, outrora da coleccão de Gestrudes  Mantero Belard, proveniente do leilão das jóias de D. Maria Pia, em 1911.

O século XIX é ainda representado por jóias de  D. Amélia, com peças mais discretas. 

A presença religiosa é marcante, notando-se uma clara influência italiana e francesa. 

A parte final da exposição abrange as condecorações, simbolizando as relações diplomáticas de Portugal com inúmeros países. 

As recentes aquisições, em leilão e a particulares, pelo Estado da Espada de D. João VI e de pratas de D. Luís, veio dar consistência  a uma coleccão alvo de inúmeras partilhas, divisões e um substancial roubo em 2002.

 José Alberto Ribeiro, director do Palácio da Ajuda, culmina com o Museu do Tesouro Real a grande remodelação da exposição permanente da instituição. O próximo passo visará as salas de aparato – sector que tem sofrido grandes intervenções há 30 anos, mas  anda francamente envelhecido. 

O Oratório de D. Maria Pia, a sala de estar privada e o tecto da Sala do Trono foram totalmente recuperados, num esforço único e notável que urge continuar, dando-nos a maior completa retrospectiva de um interior real raro entre nós e na Europa. 

António Brás

António Brás

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