Santo António, no Museu da Cidade

Santo António, no Museu da Cidade

Uma viagem pela vida e obra de Santo António anima o Campo Grande, onde observamos preciosas obras de arte Antonianas.

Santo António, que se chamava Fernando Martins dos Bulhões, começou, desde muito cedo, a sentir-se atraído pelas pompas religiosas que via realizar-se na Sé de Lisboa, ao lado da casa onde morava com os pais, pessoas da pequena nobreza.

“As liturgias do culto, a beleza dos altares deliravam-no”, escrevem os cronistas.

Aos 15 anos pediu que o admitem-se como noviço.

Aceite, entregou-se à fé, à gramática, à história, à. teologia, disciplinas em vigor nas escolas catedralescas da época.

A sua grande devoção foi com a Virgem Santíssima, que escolheu como guia e sustentáculo. Ela ajudou-o resistir às paixões humanas que durante a adolescência o aguilhoaram. “Mas nem por um instante se rendeu às suas exigências”, garantem os cronistas.

Iniciado pelos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho do Mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa, transferiu-se, dois anos depois, para o Convento de Santa Cruz, em Coimbra. A biblioteca, o estudo, a escrita, foram o seu refúgio. Em 1220 foi ordenado.

Conheceu o ideal dos franciscanos e apaixonou-se por ele. O Ermitério de Santo António dos Olivais, em Coimbra, recebeu-o depois de ter adoptado o nome do patrono desse convento.

Uma tarde, vê chegar os restos mortais dos primeiros mártires de Marrocos. Siderado,

embarca imediatamente para o norte de África. Ao chegar ao Magrebe cai, porém doente. Receosos, os superiores mandam-no para a Secília. A Itália muda-lhe a vida.

Pregador de nomeada, chegava a ser escutado por mais de 30 mil pessoas, percorre o Sul da Europa em campanhas de catequização e conversão. Torna-se amigo pessoal de São Francisco de Assis e do Papa Gregório IX.

Contra os exploradores

Exaltado, acomete nas prédicas e nos escritos contra os homens da lei “para ganharem dinheiro ladram nos pretórios como cachorros & quot; e contra os exploradores. “Oh, quanto se vestem de púrpura, isto é, de pano tinto de suor e sangue de lucros ilícitos”.

Entrega-se aos desprotegidos, aos infelizes, aos sofredores, aos doentes. Os seus sermões ganham impacto e energia incomuns.

Na ficção criadas à sua volta, Santo António não passa, porém, de um frade bonacheirão e compincha, que parte bilhas às raparigas nas fontes, e passeia crianças ao colo nos jardins.

A expressão “um tostãozinho para Santo António” surgiu quando, após o terramoto de 1755, se reconstruiu a igreja erguida em sua honra no local onde nasceu. As obras foram lançadas pelo presidente do senado da câmara Paulo de Carvalho, irão do Marquês de Pombal, a partir de esmolas e donativos, tendo os peditórios feitos pelas crianças nas ruas de Lisboa sido decisivos.

Promovido a general

Soldado, alferes e capitão de Infantaria de Lagos, Santo António é tomado por outros regimentos em Portugal, Brasil, Índia, Moçambique, como seu patrono, atribuindo-lhe altos postos e patronos.

“O coronel António de Pádua vai quase em três séculos de serviço nesta unidade. Nomei-o por isso general e ponho-o na reserva”, escreve em despacho oficial o ministro da guerra do Brasil, Dantas Barreto, em 1904, sem paciência para continuar a aturar as exigências dos seguidores do Santo fardado.

Noutros quartéis ele continua, no entanto, no activo. Os mancebos de todas as incorporações, de todas as épocas afeiçoam-se com gosto ao feitio anti militarista, anti –formalista, anti legalista, anti-elitista que dizem ter sido o dele, ele que nem chegou, sequer, a ser tropa.

Santo António, uma espécie de Zé Povinho dos altares, foi herói na literatura com Augusto Gil, , Agustina Bessa-Luís, Aquilino Ribeiro, Afonso Lopes Vieira e Marionela Gusmão, modelo nas artes plásticas com Gregório Lopes, Pedro Alexandrino, Columbano, Almada, Rosa Ramalho, José Franco, Carlos Setemares, e vedeta no teatro de revista. Beatriz Rente, célebre atriz de 1800, e José Villaret fazem dele uma personagem fabulosa nos palcos. A actriz foi inclusivamente retratado como Santo António, óleo de Francisco Baeta, recentemente vendido por nós ao Museu do Teatro.

Villaret vestido de burel, sandálias e capucho, satirizou Salazar, também António, de maneira inesquecível. “Quero ver o povo unido/ No meu lindo Portugal/ Quero-o junto e não partido/Na união tradicional/ Quem me engane ou contradita/ Apontou meu cadero/ Vai com um cartão de visita/ Para as profundezas do inferno.

A 15 de Junho de 1251, numa sexta feira, Santo António tem visões místicas. “Vejo o Senhor”, exclama estendendo os braços. Momentos depois expira. As crianças  correm a seguir, pelas ruas da cidade gritando: “Morreu o Santo, morreu Santo”.

No ano de 1934, Portugal declara-o, oficialmente, seu padroeiro. 

Depressa destronou, em séculos passados, o próprio São Vicente, padroeiro de Lisboa, no coração das populações, passando a conciliar a virtude, a licenciosidade, a justiça, a tolerância, a sabedoria, a matreirice, o desvaneio e a fé.

António Brás

António Brás

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