Sheila Metzner I Fotógrafa de Moda e de Naturezas Mortas

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A exposição agora patente no Getty Museum destaca a arte da fotógrafa americana Sheila Metzner, aclamada internacionalmente, que deixou a sua marca na história da fotografia do final do século XX nas áreas da moda e da natureza morta. 

Sheila Metzner é uma fotógrafa autodidata, criou uma carreira vibrante, numa indústria dominada pelos homens, pelas suas imagens compostas de forma única.

Ao longo de uma carreira de 50 anos, Sheila Metzner (americana, nascida em 1939) desenvolveu um estilo fotográfico único que reúne cores suaves e pictóricas com um destaque nas qualidades formais da composição, geometria, luz e sombra.

A mostra está em exibição de 31 de Outubro de 2023 a 18 de Fevereiro de 2024 no Getty Center, e destaca a arte desta fotógrafa internacionalmente aplaudida que deixou a sua marca na história da fotografia do final do século XX, especialmente nas áreas da moda e da natureza morta.

“O estilo único de Metzner mistura aspectos do Pictorialismo e do Modernismo para criar uma estética distintamente refinada e composta”, afirma Robert Tuttle, diretor do J. Paul Getty Museum. A sua sensibilidade visual única destaca-se na história da fotografia e tornou-se sinónimo do melhor da arte, moda, beleza e artes decorativas dos finais do século XX.”

Metzner nasceu em Brooklyn, Nova Iorque, filha de pais judeus da classe operária. A fotografa formou-se em comunicação visual no Pratt Institute e obteve o seu BFA em 1960 e  trabalhou como directora de arte em várias agências de publicidade, incluindo a Doyle Dane-Bernbach (DDB Worldwide), onde se tornou a primeira mulher a ocupar esse cargo. Em 1968, Metzner casou-se com o diretor criativo e designer gráfico Jeffrey Metzner e constituiu família. Sheila foi inspirada pela fotografia britânica do século XIX, especialmente com a fotografa Julia Margaret Cameron, e desde então decidiu dedicar-se à fotografia.

Trabalhando à noite, aprendeu sozinha a utilizar a máquina fotográfica, a revelar negativos e a fazer impressões. Após uma década de prática, realizou a sua primeira exposição individual na Daniel Wolf Inc., Nova Iorque, em 1978. Nesse mesmo ano, foi convidada a participar na exposição colectiva “Mirrors and Windows” no Museum of Modern Art de Nova Iorque. Seguiram-se encomendas para a fotografia editorial e os seus retratos e imagens de moda apareceram frequentemente na Vanity Fair e na Vogue. A lista de clientes comerciais de Metzner cresceu rapidamente e incluía casas de design de topo e marcas de beleza como Chanel, Elizabeth Arden, Fendi, Ralph Lauren, Shiseido e Valentino, entre outras.

Emprega frequentemente o processo Fresson, uma técnica patenteada de impressão em carbono que produz tonalidades suaves e cores discretas. 

“Sheila Metzner é conhecida pelas suas impressões compostas com sensibilidade que transcendem a natureza efémera da página da revista, assim como pela beleza pictórica das suas imagens a cores”, afirma Paul Martineau, curador da exposição. “A artista e eu trabalhámos em conjunto para seleccionar os melhores exemplos do seu arquivo para esta exposição, que mostra mais de três décadas da sua inspiração criativa.”

A mostra de Sheila Metzner é comissariada por Paul Martineau, curador do Departamento de Fotografias do Getty Museum.

A primeira mulher directora de arte

Sheila Metzner é uma fotógrafa americana cujo portefólio abrange uma variedade de temas, desde moda e publicidade a retratos, paisagens e naturezas mortas.  Sheila após realizar os seus estudos em Comunicação Visual no Pratt Institute em Nova Iorque, foi contratada pelas agências de publicidade, como directora de arte. Durante todo o seu mandato como directora, Metzner também tirava fotografias particulares, embora a maioria das suas imagens nos primeiros 10 anos se centrasse em assuntos privados, principalmente a sua família. Estas fotografias foram inspiradas por fotógrafos ingleses do século XIX,  e permaneceram inéditas como parte dos seus primeiros trabalhos.

A primeira fotógrafa a colaborar com a Vogue

Em 1978, uma das suas primeiras impressões foi incluída na exposição inovadora “Mirrors and Windows: American Photography since 1960”, que teve lugar no Museum of Modern Art de  Nova Iorque, e foi fundamental para o lançamento da sua carreira como arista de belas artes. A partir de então, tornou-se a primeira fotógrafa a colaborar com a Vogue, além de realizar trabalhos para várias outras revistas, incluindo a W Magazine, fotografou campanhas para marcas como Valentino, Elizabeth Ardne, Fendi, Perry Ellis, Saks 5th Avenue e Shiseido. Para além do seu portfólio de moda, Metzner também fotografou retratos de celebridades ao longo da sua carreira, incluindo Uma Thurman, David Lynch, Milla Jovovich e Tilda Swinton.

Um estilo de Assinatura Único

Apesar de trabalhar numa variedade de géneros, Sheila Metzner tem um estilo de assinatura único e reconhecível. Profundamente pessoais, as suas imagens distinguem-se pela sua sensualidade e graça. Há quase sempre um foco suave, combinado com cores profundas e saturadas que dão às imagens a sua aura de pintura. Metzner inspira-se nos fotógrafos pictorialistas dos séculos XIX e XX, como Alfred Stieglitz, Edward Steichen e Man Ray. Ela acreditava que era 

“a responsabilidade do artista de absorver as obras de arte do passado, independentemente da forma como as recebemos, e de as transmitir ao futuro”.

O método Fresson

Para além do estilo suave e romântico das imagens de Metzner, é também o método de impressão que ela utiliza que confere às suas imagens a sua qualidade frágil. O método Fresson é considerado um dos mais arquivísticos e estáveis entre todas as formas de impressão a cores actuais.  Esta técnica foi fundada por Theodore Henri Fresson em 1899, e era inicialmente utilizada para impressões monocromáticas e mais tarde foi usada  para produzir as primeiras impressões a cores em carbono. A impressão Fresson dá prioridade à disposição geral e ao carácter da obra, como se pode ver nas imagens de Metzner, e acredita-se que seja o mais pictórico dos processos de impressão. A natureza lenta da técnica Fresson complementa ainda mais as fotografias sonhadoras e frequentemente etéreas de Metzner, uma vez que cada impressão demora cerca de seis horas a ficar concluída. Metzner afirmou que:

“a arte era um apelo ao reconhecimento da superfície e da beleza como um poder transformador”.

Joko Passion

Uma das fotografias mais conhecidas de Sheila Metzner intitula-se” Joko Passion” e é datada de 1987. A fotografia mostra uma modelo com um vestido vermelho e brincos de rubis e diamantes, com a cabeça inclinada para trás. No centro da composição, uma protea está num vaso antigo, entre a modelo e um quadro. O manequim parece estar a espelhar a figura na pintura, mas o rosto do vulto está mascarado pela folha. A fotografia de Metzner dá a sensação de estar presa no mundo de fantasia que ela criou. As bordas suaves e as cores ricas e temperamentais dão à imagem um brilho, quase como se fosse uma cena de um sonho acordado. A modelo tem os olhos fechados com a cabeça inclinada para trás, talvez num momento de folia, o que mais uma vez realça a sensualidade elegante recorrente nas fotografias de Metzner. A crítica de arte Carol Squiers comentou a singularidade do trabalho de moda de Metzner dizendo: “Numa altura em que a fotografia de moda estava presa entre a esterilidade e o instantâneo, Metzner criou uma visão sumptuosa que estimulou todo o campo.”

Equilíbrio entre a vida comercial e a vida pessoal

Ao longo da sua ilustre carreira, que ainda continua, Sheila Metzner sempre equilibrou a sua vida comercial e pessoal. As suas fotografias são claramente reconhecíveis, com a sua suavidade e profundidade, e são frequentemente referidas hoje em dia. Quer se trate de um retrato ou de uma natureza morta, de uma paisagem ou de uma moda, Sheila Metzner cria frequentemente mundos de beleza que aludem a pinturas clássicas. Para além do seu impressionante trabalho de moda, as suas fotografias de belas artes estão incluídas nas colecções do Metropolitan Museum of Art, do Museum of Modern Art, do J. Paul Getty Museum, do International Center of Photography, do Brooklyn Museum, do Museum of Fine Arts, Houston, do Chrysler Museum, do Art Institute of Chicago, bem como em muitas colecções pessoais. Publicou cinco monografias, das quais “Objects of Desire” ganhou o Prémio Ansel Adams da “American Society of Magazine Photographers” para Fotografia de Livros; “Sheila Metzner’s Color”; “Inherit the Earth”, uma colecção de paisagens, “Form and Fashion”, uma colecção de imagens recolhidas de vinte anos do seu trabalho em belas-artes e moda, e “Sheila Metzner: From Life” em 2017.

O estilo único de Metzner reúne aspectos do Pictorialismo e do Modernismo para moldar uma estética que não só se destaca na história da fotografia, como se tornou intimamente associada às melhores tendências da moda, beleza e artes decorativas dos anos 80.

Theresa Beco de Lobo

Theresa Bêco de Lobo

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