Restauro do Presépio da Capela do Monte

Moda&Moda apoia o Restauro do Presépio da Capela do Monte

Da autoria provável do célebre escultor António Ferreira, o Presépio da Capela de Nossa Senhora da Glória e São Gens, conhecida por Capela de Nossa Senhora do Monte, foi executado em meados de 1700. 

A obra tem mais de 100 figuras, entre cenas da bíblia e do quotidiano, dispostos em cinco planos. O resultado revela-se uma grandiosa encenação barroca plena de cor e luz.

O Presépio carece de uma urgente intervenção de restauro e valorização. 

Com o apoio da Paróquia da Graça, especialmente do Cónego Jorge Manuel Dias, das voluntárias da Capela do Monte, de dois técnicos em museologia, a revista MODAEMODA e a Associação Consciência Colectiva vão lançar a recolha de fundos para o restauro e valorização do Presépio.

O especialista e restaurador em escultura André Varela Remigio, da empresa Santo André – conservação e restauro de bens culturais, fez o projecto de restauro e estudou longamente o Presépio, cujo trabalho publicamos.

No ano passado a directora da revista MODA&MODA, Marionela Gusmão, financiou o longo restauro do Rei Mago Baltazar, e este ano foi a vez da Sagrada Família ter sido longamente intervencionada. 

Constituído por figuras e grupos modelados em barro cozido policromado, o presépio organiza-se em cinco planos, encontrando-se infelizmente em mau estado de conservação. 

A poeira de muitas décadas tornou o presépio escuro, inúmeras figuras apresentam falhas, a sua organização revela-se pouco conseguida, algumas imagens de fraca qualidade dos séculos XIX e XX foram acrescentadas, o céu em estuque apresenta rachas fortes e, por fim, uma grade encobre a maquineta. 

Os inúmeros turistas que entram na capela raramente observam o presépio. A grade em ferro, obra provável dos anos 79 do século XX, e a falta de iluminação encobrem-no quase totalmente.

O presépio tem três metros de largura por dois de altura e dois metros de profundidade. 

No interior, uma estrutura de cortiça e madeira coberta de musgo, serve de cenário para as figuras que nós revelam cenas bíblicas e do quotidiano da vida popular. O resultado é de um realismo profano e sacro.  

Os elementos principais do presépio foram por António Ferreira, os restantes, caso de homens, mulheres e elementos vegetais e arquitectónicos, são da autoria dos seus colaboradores., havendo ainda imagens mais recentes.

O Presépio revela-se completo, conseguindo representar os episódios mais importantes ligados ao nascimento de Jesus: a Natividade, Sagrada Família, Adoração dos Reis Magos, Adoração e Anunciação dos Pastores, Cortejo Régio e a Matança dos Inocentes. 

O presépio, um dos mais desconhecidos existentes em Portugal, apenas Diogo de Macedo lhe dedicou alguma atenção na sua obra “Presépios Portugueses”, publicada nos anos 40, carece de um urgente restauro.

Presépios de Lisboa

Lisboa possui um conjunto notável de presépios setecentistas, espalhados pela Basílica da Estrela, pela Igreja de São José da Anunciada,  pelo  Museu Nacional do Azulejo/Igreja da Madre de Deus (recentemente remontado,  um conjunto de 42 figuras de meados do século XVIII, atribuído a Dionísio e António Ferreira), pela Basílica dos Mártires (de autor desconhecido, mas com grande influência da tradição presepista do norte de Portugal), pela Sé Catedral  (o único assinado e datado por Machado de Castro,1766, que foi recentemente exposto numa das capelas laterais do baptistério), pelo Mosteiro de São Vicente de Fora (executado por Machado de Castro, em 1787), e pelo Museu de Arte Antiga – presépios das Necessidades e dos Marqueses de Belas, entre outros.

Presépio dos Marqueses de Belas

O MNAA possui uma sala dedicada ao presépio português, retrospectiva da escultura entre os séculos XVI e XIX, destacando-se fragmentos do Presépio do Convento da Carnota e o Presépio do Palácio das Necessidades.

O museu tem na ante-capela exposto o mais monumental presépio da instituição. Trata-se do célebre Presépio do Marquês de Belas, que foi recentemente restaurado através de uma recolha de fundos que angariou 40 mil euros.

O  presépio conserva-se dentro da sua maquineta original de madeira entalhada, policromada e dourada, coroada por dois anjinhos. A sua autoria deve-se a Joaquim José de Barros (dito Barros Laborão), Joaquim António de Macedo, e António Pinto.

A designação de Presépio dos Marqueses de Belas resulta da lenda de no “Grupo do Mouro” se encontrarem representados o 1º Marquês de Belas, D. José Luís de Vasconcelos e Sousa, e sua mulher D. Maria Rita de Castelo Branco

No entanto, o presépio foi encomendado por José Joaquim de Castro, um colecionador de Lisboa que o manteve até 1816. Depois foi pertença de D. Maria Augusta Fialho de Castro, de D. Maria Augusta de Castro Lemos, do Conselheiro Augusto Fialho de Castro, de D. Francisco de Almeida e de D. Maria da Nazareth Monteiro de Almeida Carvalho Daun e Lorena, sendo vendido em 1926 ao MNAA.

A obra, presépio e maquineta, foram executadas por Joaquim José de Barros, dito Barros Laborão (1762-1820), com quem o encomendador manteve uma relação complexa e polémica. José Joaquim de Castro interferênciu no plano de montagem do presépio, acrescentando inúmeras figuras avulsas adquiridas a negociantes e intermediários como é o caso do pintor Pedro Alexandrino de Carvalho. 

O escultor foi aluno na Aula de Estuques de João Grossi, e com outros escultores trabalhou nas estátuas do Palácio da Ajuda, são da sua autoria a “Honestidade”, a “Diligência”, o “Desejo” e o “Decoro”. 

Joaquim António de Macedo (1750-1820) modelou alguns grupos, caso do “Pescador” e do “Pastor”, algumas estão assinadas, e uma delas datada de 1796. O artista foi discípulo de Giusti na Escola de Mafra.

António Pinto foi o pintor responsável pela policromia da maioria das figuras do presépio em barro.

O Presépio dos Marqueses de Belas, encerra a grande tradição dos presépios portugueses em barro, refletindo o gosto e a estruturação habitual nos conjuntos do século XVIII, paralelamente introduz a  novidade do acrescento de figuras avulsas obras de escultores ou barristas secundários, algo comum nos presépios modernos que misturam esculturas de inúmeras proveniências e qualidades diversificadas.

António Brás

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