Arte Oriental em Portugal
Do Oriente sempre nos atraíram os marfins, os têxteis, as porcelanas, as lacas e destacadamente os móveis. Estes últimos são, por certo, a área mais conhecida e estudada entre nós portugueses bem como na Europa em geral.
A maioria dos museus portugueses com núcleos de artes decorativas apresentam-nos raríssimos conjuntos de peças, datadas de 1500 a 1700, maioritariamente provenientes de doações ou legados privados.
Madalena Cagigal e Silva e Maria Helena Mendes Pinto, conservadoras de museus e historiadoras, com um valioso conhecimento empírico e um muito aprofundado estudo diário das peças, pelos quais publicaram obras fundamentais sobre o mobiliário indo-português.
Em Portugal existem colecções preciosíssimas de mobiliário de influência oriental, espalhadas por quase todo o País, destacando-se em Lisboa pela sua importância nos museus, como de Arte Antiga e das fundações Ricardo Espírito Santo e Medeiros e Almeida. No Porto evidenciam-se exemplares nos museus Soares dos Reis e Guerra Junqueiro. Com grande destaque são ainda de referir as dos museus municipais da Figueira da Foz e Viana do Castelo, dos palácios de Sintra, Ajuda, Guimarães e Vila Viçosa, dos museus nacionais Machado de Castro em Coimbra e Grão Vasco em Viseu, bem como as dos Biscainhos em Braga e por fim, mas de não menor importante, a do museu da Quinta das Cruzes no Funchal.
Verdadeiro Frenesim
A partir dos Descobrimentos, os móveis indo-portugueses impuseram-se.
As classes abastadas do nosso País, deslumbradas com a sua expressão criativa, receberam-nas com grande entusiasmo. Um verdadeiro frenesim atravessou os nossos palácios, conventos e igrejas que rapidamente se engrandeceram com eles. Os salões passaram a ostentar sumptuosos contadores de chão, mesa ou estrado, bufetes, escritórios e ventós.
Nas zonas privadas destacavam-se as camas, as arcas, os cofres e os oratórios.
Os altares das igrejas brilhavam, por sua vez com cofres (serviam, por vezes, para guardar as hostias) e estantes de missal.
Maiores coleccionadores
Os portugueses têm sido desde o século XVI os maiores coleccionadores desten género de mobiliário, hoje património mundial. A contribuição que deram para o seu fabrico e expansão foi notável, embora pouco conhecida.
Rapidamente a moda chegou ao resto da Europa, servindo o nosso Pais de intermediário entre o Oriente e o Ocidente. Inicialmente foram os holandeses, ingleses e franceses que decoraram os seus palácios com contadores, bufetes e cofres.
A nossa preferência, contudo, foi sempre mais focada para peças indo e cingalo portuguesas. Esses móveis eram executados por artificies locais que utilizavam madeiras locais como sissó, ébano, teca bem como outras madeiras exóticas.
A decoração era realizada com embutidos em marfim, laca e metais com destaque para o bronze e mais raramente para a prata. Os motivos eram muitos diversificados – paisagens, cenas do quotidiano e de corte, caça, desenhos geométricos, e, mais raramente, brasões, monogramas e símbolos religiosos.
Os contadores eram frequentemente assentes em nagini, divindades hindus com busto humano e cauda de sepente ou sereia que, por sua vez, podiam ainda assentar em leões.
Este gosto tornou as peças portuguesas de grande raridade e valor.
No século XIX a moda chegou aos Estados Unidos, onde se iniciaram grandes colecções. As nossas peças tornam-se as mais procuradas e valorizadas – o que não tem parado de aumentar. Actualmente os seus preços atingem verbas exorbitantes, sendo disputadas pelos maiores museus e coleccionadores mundiais.
Nos últimos anos assistiram-se a verdadeiros recordes.
Um contador com as armas Mascarenhas (Marqueses de Fronteira) foi vendido na leiloeira Cabral Moncada por 80 mil euros. No Palácio do Correio Velho um cofre em tartaruga quinhentista chegou aos 65 mil euros, um tabuleiro de jogo atingiu na Renascimento os 90 mil euros. Estes acontecimentos despertam, dada a sua raridade, grande interesse por parte de museus e coleccionadores internacionais.
António Brás