José Marques I Fotógrafo do Teatro e da vida social
O espólio do fotógrafo José Marques, que durante meio século registou a actividade teatral de Lisboa, acaba de ser objecto de um extenso estudo agora publicado.
O artista conquistou, desde o início, a confiança de Amélia Rey Colaço, que lhe fora apresentada por Varela Silva em 1959.
A actriz tentou impor-lhe exclusividade, mas este não aceitou, desenvolvendo trabalhos com praticamente todas as outras companhias teatrais. Entre elas destacam-se as empresas que exploravam os teatros do Parque Mayer (Maria Vitória, ABC, Variedades e Capitólio), bem como as do São Luís, Trindade, Casa da Comédia, Teatro Experimental de Cascais, Teatro Estúdio de Lisboa, Novo Grupo, Adoque bem ainda com inúmeros grupos infantis e amadores.
O catálogo agora editado destaca a actividade da Companhia Rey Colaço Robles Monteiro nos seus últimos 15 anos. Nela podemos observar Amélia Rey Colaço em “A Visita da Velha Senhora”, o papel da sua vida, e Palmira Bastos em “As Árvores Morrem de Pé”, a sua coroa de glória.
Senhor Marques, era pelo seu nome próprio que gostava de ser tratado e era conhecido. Era para todos o Senhor Marques.
O fotógrafo tornou-se uma figura pitoresca, invariavelmente de cabelos compridos e aparência “hippie”. Sabia-se que nutria uma verdadeira e grande paixão pelos palcos e bastidores especialmente do Parque Mayer.
A sua vida confunde-se, por vezes, com a história da vida cénica entre nós. Nascido em 1924, José Marques começou muito jovem como ajudante de fotógrafo de casamentos e baptizados.
Em 1959, aos 35 anos, consegue introduzir-se no meio teatral lisboeta e dele fazer o seu modo de vida.
Registou ainda a vida social portuguesa, colaborando com a cronista socia, Maria Guadalupe – para revista MODA&MODA, onde trabalhou durante várias décadas.
José Marques faleceu em 2012 aos 88 anos, deixando no seu atelier do Bairro-Alto, cerca de 500 mil imagens em vários suportes e formatos: negativos de vidro, provas fotográficas, fotografia digital, slides e provas de contacto. O acervo continua ainda em estudo e tem fundamentalmente um grande valor documental.
O Teatro Nacional D. Maria II dado o reconhecimento da importância do mesmo adquiriu o espólio, após negociações com os herdeiros do mesmo.
A publicação que agora vem a publico e denominada “José Marques – Fotógrafo Em Cena” revela-nos retratos e fotografias inéditos para a maioria dos visitantes. A publicação tem curadoria de Filipe Figueiredo, do Centro de Estudos de Teatro (Universidade de Lisboa), e das investigadoras Cláudia Madeira e Teresa Mendes Flores.
Os curadores procuraram mostrar como o teatro, visto através de fotografias, ganha novas dimensões dramáticas e deixa de ser apenas uma arte do efémero.
António Brás