Alta Costura Francesa I Primavera/Verão 2024
Alta Costura Francesa Primavera/Verão 2024. Esta cidade recebeu as referências dos costureiros, como Dior, Chanel, Giambattista Valli, Elie Saab, Armani, Elie Saab e Maison Margiela entre outros.
Para esta estação, Maria Grazia Chiuri, diretora criativa da linha feminina da Dior, mantém-se fiel a si mesma. Nesta coleção ‘haute-couture’, Chiuri revisitou os arquivos da ‘maison’. A designer desconstruiu o clássico “La Cígale”, criado por Christian Dior em 1952, que regressa à passarela. A servir de cenário, em pleno Museu Rodin, esteve a exposição ‘Big Aura’ de Isabella Ducrot, de 93 anos, inspirada nos trajes dos sultões otomanos.
A marca volta a introduzir no guarda-roupa da estação as transparências, os bordados, o veludo, o cetim e os tecidos estruturados como o moiré muito usado em coleções mais antigas da Dior, além de longos plissados com capas. Franjas e pedrarias também estiveram em destaque no desfile, que uniu o presente ao passado.
Na Schiaparelli, Daniel Roseberry surpreendeu com um desfile “ciberpunk”. As suas propostas foram como que uma reflexão sobre a relação entre humanidade e tecnologia. A abrir o desfile, a modelo Maggie Maurer surgiu com um ‘bebé’ nos braços, que parecia ter saído diretamente de um filme de ficção.
Fazendo uma justa homenagem a Elsa Schiaparelli, as propostas de Roseberry tiveram o exagero que lhes é característico. Os destaques foram certamente os ombros exagerados, as calças com cinturas absurdamente bem definidas e conjuntos vindos de um cenário distópico.
O desfile primavera/verão 2024 da Chanel foi inspirado nos jardins da villa Noailles – um edifício modernista nas colinas de Hyères, projectado pelo arquitecto Robert Mallet-Stevens em 1923. A colecção resultante foi uma coleção que explora e celebra os contrastes.
“Sofisticação e informalidade, o tweed em toda a coleção, o sportswear e as rendas: Tentei juntar uma forma e o seu oposto mais fiel possível”, explicou a diretora criativa Virginie Viard. “Os jardins e a piscina da villa Noailles, um ambiente excecional, prestam-se muito bem a isso”.
Para além da inspiração dos jardins da villa Noailles, houve outra influência, uma clara sugestão na dança clássica, Virginie Viard encheu o Grand Palais Éphémère, em Paris, de tule e meias brancas com toda a pompa e circunstância a que a Chanel já nos habituou. Delicada, subtil e com um ‘je ne sais quoi’, a marca apresentou 56 peças ao som de música clássica e de… Kendrick Lamar. Renda, tons claros e sobreposição foram apostas fortes.
Na exuberante colecção de Giambattista Valli, o dramatismo esteve presente dos pés à cabeça. O rosa foi a principal inspiração, mas destacam-se ainda os modelos sumptuosos com flores em 3D, camadas generosas de tule, bordados e volumes dramáticos. Para complementar as criações, o ‘hairstylist’ Pier Paolo apostou em rabos de cavalo com laços de veludo.
Na colecção de Simone Rocha para Jean Paul Gaultier, a designer irlandesa voltou a reinterpretar os códigos dramáticos e ousados do designer. Dos soutiens cónicos aos espartilhos e riscas, tudo surge mais delicado. Em Jean Paul Gaultier de Simone Rocha também houve volumes, laços, fitas, transparências e flores.
Elie Saab nunca encontrou um enfeite deslumbrante de que não gostasse. Dos 64 looks da sua coleção de alta-costura, apenas seis eram em cores sólidas, sem decorações – três vestidos em vários tons de seda vermelha, um vestido de baile esculpido em duchesse de seda rosa concha, uma mistura drapeada em cerúleo e um robe de soir fluido em lamé chartreuse. O resto foi um desfile de rendas incrustadas, bordados de cristal, recortes dourados, pétalas de organza e penas transformadas em aplicações 3D em forma de flor.
Essas flores emplumadas decoravam a majestosa capa que Jennifer Lopez, usou no desfile, fazendo uma entrada que levou os fotógrafos ao rubro. Assim que as coisas se acalmaram, ela sentou-se regaladamente no seu lugar na primeira fila, observando o fluxo de vestidos de noite em tons pastel, cujas silhuetas esguias foram impulsionadas por painéis laterais ondulantes, mangas de capa, mangas de sino e estolas que se alongavam em caudas reais. “Gosto da realeza”, disse Saab nos bastidores.
O trabalho artesanal de Saab é espantoso; todas as temporadas de alta-costura ele viaja de Beirute com todo o seu atelier, cujos membros traduzem o talento do estilista para o esplendor em inúmeras interpretações luxuosas. As criações de Saab parecem habitar um lugar fantástico saído dos contos de fadas, mas a sua primeira fila repleta de estrelas deu uma indicação clara de que, embora a sua imaginação tenha viajado nesta estação “para a magia de Marraquexe e para o mistério da rosa do deserto”.
A magia e o fascínio sussurram através de ELIE SAAB, com texturas sumptuosas, linhas esculpidas e respirações sensuais de Marraquexe, desdobrando-se gradualmente como as pétalas de uma rara ROSA DO DESERTO.
A passagem de Modelos da Alta Costura Primavera/Verão 2024 de Giorgio Armani apresentou uma mudança e inovação. De acordo com o costureiro a expressão francesa que dá nome à coleção ganhou um duplo sentido: se, por um lado, significa o próprio ato de colocar a Alta-Costura em jogo, por outro liga a ideia de que esta coleção reflete a própria Alta-Costura a divertir-se. Com os seus 89 anos de idade, e quase duas décadas desde a primeira coleção Armani Privé, o designer procurou perseguir o extraordinário, correndo riscos e, afirmou o seguinte “um pouco menos Armani”. Seguindo as preferências das mulheres contemporâneas, que procuram peças fora do comum, viajou do Oriente ao Ocidente e criou uma coleção de 92 modelos que, apesar de não terem um tema central, se guia pelo brilho e pelas cores. Os tecidos assumem sumptuosidade pelo brilho, pelos acabamentos e por um espetro de tonalidades que produz um efeito etéreo em toda a coleção.
Os Modelos da Alta Costura Primavera/Verão 2024 ganharam uma importância principal na mais recente coleção de Valentino, representando “um regresso e uma partida”, simultaneamente uma homenagem à herança da Alta-Costura e uma nova proposta, adaptada aos valores e necessidades contemporâneas, esclarece Pierpaolo Piccioli, diretor criativo. Em Le Salon, as propostas da casa de moda italiana regressam à intenção original da Haute Couture, a sua génese, numa “procura obsessiva da perfeição, aliada a uma paixão pela mão, um fascínio pelo processo”. Em tempos dominados pelo artificial, Valentino apresenta-nos o real nos salões Place Vendôme, que agem não só como um palco mas como um meio cultural de valorização das artes. Nas palavras da marca, “a contradição é inerente à Alta Costura – a simplicidade é complexa, a espontaneidade é o resultado de um gesto cuidadosamente ponderado” e, para isso, as justaposições de elementos é feita de forma instintiva ou inesperada, despertando emoções, numa apresentação que faz “colidir com o pragmatismo e fantasia, volumes diferentes, sensações abstratas”, que ressaltam a verdadeira essência da Alta-Costura.
A Maison Margiela encerrou a semana de Haute Couture ao comando de John Galliano, que mostrou uma vez mais o porquê de ser um dos nomes mais sonantes da Moda. O desfile foi apresentado ao lado do Sena num bar. A passagem de modelos da coleção Artesanal da maison começou com uma atuação do artista Lucky Love, seguida de um momento cinematográfico “impregnado do ambiente sinistro e chuvoso de Paris à noite”. Galliano deu destaque às silhuetas, com cinturas esculpidas com corpetes apertadíssimos, e enchimento nas ancas, criando autênticas figuras “hourglass”. São de destacar os tecidos transparentes, que evocam sensualidade e as peças aparentemente inacabadas, muito ao estilo Margiela.
A maquilhagem de Pat McGrath e cpenteados de Duffy transformaram as modelos em autênticas bonecas, conferindo o dramatismo a que o costureiro nos habituou, lembrando os tempos de Galliano na Casa Christian Dior, em que esta apresentação ficará, naturalmente, marcada na história da Moda.
Theresa Beco de Lobo