Mary Cassatt e a sua Arte
A exposição intitulada “Mary Cassatt e sua Arte”, no Philadelphia Museum of Art, em Philadelphia, destaca a pintura da artista americana Mary Cassatt (1844–1926), um dos expoentes máximos do impressionismo.
Ainda jovem, Cassatt tomou a decisão – audaciosa na época – de deixar o estado americano da Pensilvânia e mudar-se para Paris. Lá, ela não apenas logo criou um vínculo afectivo e duradouro com os impressionistas, como se tornou uma das “três grandes pintoras do impressionismo” (junto a Marie Bracquemond e Berthe Morisot).
A mostra representa a primeira exposição em grande escala do trabalho de Cassatt nos Estados Unidos da América e esá´patente no museu de Filadelfia de 18 de Maio a 8 de Setembro de 2024.
Este evento reúne mais de 130 obras e correspondência pessoal, que nunca foi vista, destacandoas seis décadas da carreira de Cassatt, investigando as interconexões de género, trabalho e técnicas, que ainda não foram profundamente exploradas.
Uma mulher num mundo de homens, Mary Stevenson Cassatt foi a mais conhecida representante feminina do movimento impressionista e é a única pintora presente na Colecção do Museu de Filadélfia.
Mary Cassat
Mary nasceu em 1844 na Pensilvânia (EUA), onde estudou na Pennsylvania Academy of Fine Arts. Contudo, foi na Europa – sobretudo em França, para onde se mudou na casa dos vinte – que passou a maior parte da sua vida. Aprendeu pintura com Jean-Léon Gérôme, copiando obras de grandes artistas e desenhando regularmente.
Em 1868 expôs a sua primeira obra no Salon de Paris. Passou por Itália, Espanha, Holanda e Bélgica, onde estudou as pinturas dos velhos mestres. No final da década de 1870, foi convidada por Edgar Degas a integrar-se num grupo de artistas independentes, mais tarde conhecidos como Impressionistas, participando em quatro das oito exposições por eles organizadas.
Influenciada pelos colegas, sobretudo por Manet e Degas, que se tornou seu amigo e mentor, fortaleceu a sua técnica e desenvolveu experiências na área da gravura. Entre os seus temas de eleição destacam-se a família e a maternidade, aos quais dedicou inúmeras obras, como “Cuidados Maternais,” que foi adquirida por Calouste Gulbenkian em 1919, ainda antes da morte da pintora, em 1926.
Mary teve um papel importante na construção de várias colecções públicas e particulares americanas, aconselhando a compra de muitas obras. Foi também uma figura-chave no movimento sufragista, elevando o estatuto feminino no campo das artes e usando a sua influência artística para apoiar a luta das mulheres, que conquistaram o direito ao voto nos Estados Unidos enquanto a artista ainda era viva.
Cassatt foi o único membro americano do movimento impressionista francês, desenvolveu uma prática notável, retratando a vida social, intelectual, doméstica e profissional das mulheres modernas. Ganhando a vida com a sua arte num mundo em rápida modernização, o trabalho de Cassatt representou tanto uma oportunidade comercial como um meio vital de auto-definição.
Acerca do seu trabalho Cassatt escreveu à sua amiga, a coleccionadora Louisine Havemeyer, o seguinte: ” Oh, a dignidade do trabalho, dêem-me a possibilidade de ganhar o meu próprio sustento, cinco francos por dia e respeito por mim própri”.
Embora a artista seja mais conhecida pelas suas representações de mulheres e crianças, esta exposição realça a observação subtil e muitas vezes ignorada de Cassatt do trabalho invisível específico dos espaços domésticos e sociais habitados pelas suas personagens femininas. Estas mulheres – ocupadas com a prestação de cuidados, a educação dos filhos, o artesanato, o ensino ou a execução de trabalho social – oferecem impressões de trabalho, inflectidas pelo género, que combinam sensibilidade e franqueza. A exposição explora a iconografia terna, mas não idealizada, do trabalho de cuidados de Cassatt e o seu interesse pelas condições sociais da mulher moderna, desenvolvido em pastel, impressão e pintura.
A exposição “Mary Cassatte a sua Arte” apresenta os próprios processos profissionais de Cassatt em relação aos trabalhos socialmente invisíveis que retratou.
Com base na investigação do significativo espólio de Cassatt do Philadelphia Museum of Art, a mostra destaca novas descobertas sobre os métodos e a inovação da técnica de Cassatt para iluminar os trabalhos materiais de uma artista para quem a arte e o trabalho eram indissociáveis. Abrangendo desde a sua prática experimental de impressão até aos delicados pastéis sensíveis à luz, o evento mostra a evolução da produção artística de Cassatt e demonstra o seu empenhamento naquilo que ela descrevia como o trabalho “sério” de fazer arte. “A arte era o objectivo da vida de Mary Cassatt. Esta exposição centra-se no profissionalismo de Cassatt, na sua biografia e no mundo parisiense mais alargado em que viveu. Espero que este acontecimento venha a reformular as conversas contemporâneas sobre género, trabalho e movimento artístico”, afirmou, Sasha Suda. George D. Widener Director and CEO do Philadelphia Museum of Art.
“Esperamos que os visitantes saiam com uma noção de quem era Cassatt e do cuidado com que construiu a sua identidade enquanto artista profissional. Com esta exposição, procurámos reexaminar toda a amplitude da arte de Cassatt através de um novo olhar do seu empreendimento criativo e chamar a atenção para o seu empenho na experimentação incessante e em técnicas arrojadas,”afirmaram os curadores Jennifer A. Thompson, curadora de Pintura e Escultura Europeias de Gloria e Jack Drosdick e a curadora da Colecção John G. Johnson, e Laurel Garber, curadora assistente de Gravuras e Desenhos da Família Park.
A exibição “Mary Cassatt e a sua Arte” apresenta obras das extensas colecções do Philadelphia Museum of Art, incluindo algumas das mais célebres pinturas e gravuras de Cassatt, assim como cedências do Metropolitan Museum of Art, do Art Institute of Chicago, do Cleveland Museum of Art, do Virginia Museum of Fine Arts e de várias colecções privadas.
Está também disponível uma visita multimédia, com áudio, imagens e vídeos, bem como um catálogo totalmente ilustrado. Após a sua exibição no Philadelphia Museum of Art a mostra irá para o Fine Arts Museums of San Francisco, Legion of Honor em 5 de Outubro de 2024 a 26 de Janeiro de 2025.
Mary Cassatt foi um membro célebre dos impressionistas franceses, desafiou as expectativas convencionais da elite de Filadélfia. Em Paris, Cassatt empenhou-se numa carreira de artista profissional e fez da vida social, intelectual e profissional das mulheres modernas um tema central das suas gravuras, pinturas e pastéis. Embora tenha sido reconhecida em vida pelas suas representações íntimas de mulheres e crianças, Cassatt ainda não foi apreciada pelo seu compromisso sério com as realidades do género e do trabalho nas suas representações de outras actividades tradicionalmente femininas, como bordar, ler ou fazer aparições sociais.
Estas representações estão no centro de “Mary Cassatt e a sua Arte”, que apresentam diversas obras que acompanham a evolução da prática da artista e demonstram o seu interesse pelo “trabalho sério” de fazer arte. A exposição apresenta novas descobertas sobre os materiais que utilizava e os seus processos – que eram avançados para a sua época -, uma vez que coincide com um estudo técnico pormenorizado das importantes colecções de Cassatt do Philadelphia Museum of Art.
“Mary Cassatt e a sua Arte” é a primeira grande exposição da obra da artista desde 1998/99. Ao considerar o seu profissionalismo, a sua biografia e o mundo parisiense mais vasto em que viveu, desenvolve-se uma imagem mais rica e complexa de Cassatt, convidando a conversas contemporâneas sobre género, trabalho e o movimento artístico.
A exposição oferece um novo olhar sobre esta talentosa artista, que na segunda metade do século XIX se fascinou pelos temas mais variados do Impressionismo, ponto de inspiração para as suas ambições artísticas e onde a arte parecia ser uma parte da sua vida quotidiana.
Theresa Bêco de Lobo