As deslumbrantes faianças de Viana do Castelo
Há 250 anos era fundada em Viana a célebre Fábrica do Darque, que é uma referência na história da faiança portuguesa.
Na actualidade, essas peças podem ser observadas nos grandes museus portugueses, principalmente no Museu de Artes Decorativas de Viana do Castelo, e no mercado de antiguidades.
O período do seu funcionamento, 1774 a 1885, marcou, com efeito, a renovação do sector, através do fabrico de peças de qualidade.
Na sua primeira e melhor fase, a fábrica produziu, maioritariamente, bustos, estatuetas, potes, terrinas e aquários pintados com motivos naturalistas, em tons de branco, verde, amarelo e azul. A sua aceitação foi, porém, diminuta. A nobreza preferia as porcelanas provenientes da China, Inglaterra e França, e a burguesia considerava a produção nacional algo bizarra e fora de moda.
Antiga tradição
É antiga a tradição de menosprezarmos o que é nosso, sem nos darmos conta da injustiça, da autofagia que cometemos. O exemplo da Fábrica do Darque revela-se uma das maiores desatenções cometidas no campo da arte – campo onde elas se tornaram assíduas e, por vezes, dramáticas.
É lançada a produção, em quantidade, de objectos de forte consumo, como serviços de mesa.
O seu cromatismo mantém-se expressivo, com predomínio do azul.
Domínio comercial
As dificuldades voltam, no entanto, a agravar-se. As faianças perdem, como consequência, qualidade. A fábrica procura apenas satisfazer o gosto popular. As encomendas da nobreza e burguesia rareiam.
O êxito comercial domina e, durante algum tempo, compensa – embora perverta a identidade cultural da manufactura.
Segue-se um longo período de esquecimento, apenas quebrada pelos estudos de José Queiroz em 1907, de Arthur de Sandão décadas mais tarde e, mais recentemente, de José Meco.
Altos preços
Na actualidade, os museus de Viana do Castelo, Arte Antiga, do Azulejo, da Cidade, em Lisboa; de Cerâmica, nas Caldas da Rainha; o Paço Ducal, em Vila Viçosa; e o museu da Fundação Maria Isabel Guerra Junqueiro, no Porto, preservam conjuntos da Fábrica do Darque.
O mercado de arte português “redescobriu” a faianças do Darque sobreviventes e valorizou-as de maneira ímpar.
António Brás