Educação I O impacto ambiental do Natal

Educação I O impacto ambiental do Natal

O início de Janeiro encerra a época festiva mais importante do calendário e mesmo para os que não seguem nenhuma religião é inevitável o sentimento especial que o ambiente emotivo e exuberante que marca os dias de Dezembro e sobretudo nos que rodeiam o 24 e 25, nos causa. 

Esta também é uma ocasião que induz a reflexões e a compromissos para o novo Ano prestes a começar. A época convida a estarmos mais atentos, a sermos mais coerentes com os valores que cintilam nas árvores de Natal e nas velas em redor dos presépios, mas por vezes o convite fica só nas intenções que jazem lacradas e esquecidas no fundo da memória.

Uma das promessas que faria sentido assumir e cumprir é com o próprio planeta, assumindo um respeito pela nossa Casa Mãe, garante da nossa sobrevivência, que tarda em se concretizar. E também porque por estes dias se faz ou desfaz a educação moral das crianças e jovens que o destino nos confiou como filhos, sobrinhos ou netos, teria sido uma excelente ocasião para colocar em prática o que defendemos quando enchemos o nosso discurso de boas intenções ambientais.

 A humanidade atravessa uma das épocas mais preocupantes da sua História e um dos motivos que nos deve sobressaltar é o esgotamento dos recursos naturais que suportam a vida na Terra. O planeta grita sufocado, atolado de lixo e saqueado dos seus elementos, mas o Homem continua a fazer o contrário do que apregoa fazendo de conta que não passa tudo de alarmismos inconsequentes. O planeta azul, cada vez menos azul e menos verde, apesar da sua enorme capacidade de regeneração não tem capacidade infinita de renovação nem os seus recursos são infinitos, mas o Homem parece não entender ou pelo menos parece não acreditar muito nos avisos que há anos os cientistas ambientais têm vindo a fazer. Por isso, e porque o Planeta nos é emprestado pelos nossos descendentes, talvez valesse a pena investir numa verdadeira educação ambiental. E a verdadeira educação ambiental passa, já agora, por desmistificar a Reciclagem como a solução para uma actividade humana cada vez mais danosa. A rotulagem nas embalagens de produto “verde” é muitas vezes um logro e a própria reciclagem, apesar de ter importância, representa uma resposta bastante residual para os problemas que o lixo causa. Para se ter uma noção, apenas cerca de 10% do plástico é reciclável. As campanhas e até programas de sensibilização realizadas nas escolas não contam a história toda. E a história tem de se centrar no facto assustador de que o que se deita fora não desaparece, apenas muda de lugar e fica longe do nosso campo de visão, mas continua algures a contaminar o Planeta. Importa perceber e incorporar no nosso código moral a dimensão trágica do desperdício e do excesso. Talvez ajude na construção de uma ética ambiental compreender que a educação ambiental cruza-se em estreita simbiose com a educação financeira. Se pensarmos que ambas se interligam porque uma levará a uma gestão mais racional dos gastos financeiros, talvez seja mais fácil a adesão a um comportamento menos irresponsável e egoísta. 

Acabámos de atravessar aquele que deve ser dos meses mais despesista do ano e deveríamos ter pautado as nossas escolhas não apenas de acordo com critérios orçamentais, mas fiéis ao pensamento de que as compras têm impacto na Natureza e na sociedade. Fazê-lo acompanhados pelos mais novos, teria sido determinante para a importante tarefa de sensibilização ambiental. Saber conter os ímpetos consumistas é uma das intenções mais ouvida ano após ano, mas os dias 25 e 26 amanhecem invariavelmente com contentores repletos de coloridos papéis de embrulho e caixas de cartão, pequenas e grandes que já foram guardiãs de brinquedos, bonecas, aparelhos, utensílios, objectos decorativos, roupa…muita roupa… Olhar para os contentores nas manhãs que se seguem à consoada permite-nos uma radiografia do comportamento social. E o diagnóstico não é simpático. 

No Natal celebra-se o nascimento de Jesus, alguém que legou uma mensagem simples que pode assumir várias e complexas teses e narrativas, mas que se poderá resumir a um simples apelo: “Amem-se!”. Simples, mas de difícil prática. No apelo do Amor está obviamente incluído tudo o que faz parte da Natureza: animais humanos e não humanos, os oceanos, o ar que respiramos, as plantas, as montanhas… destruir o planeta é não amar nada nem ninguém incluindo nós próprios e os nossos filhos. Quando entramos num registo alucinante de compras frenéticas e embrulhos aparatosos que circundam a árvore não se está a festejar nenhum Natal, apenas a reconhecer que as datas de 24 e 25 de Dezembro são umas excelentes oportunidades de consumismo.

Sermos coerentes com uma ética de consumo atenta, responsável e contida será sempre o melhor presente de Natal que podemos deixar aos nossos descendentes.

Paula Timóteo

Paula Timóteo

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