A revista Moda e Moda todos os anos em Maio, está presente no Met Gala, um dos acontecimentos importantes num dos museus mais notáveis do mundo, onde esta instituição de arte se transforma numa noite de chuva de estrelas. O Baile de Gala Anual do Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque, um dos eventos com mais sucesso no Mundo da Moda, reúne Celebridades, Estrelas de Hollywood, Jornalistas e Estilistas, num cenário de glamour e brilho, que marca a inauguração de uma mostra de moda. Este ano, o “código de vestuário” é “Tailored for You” – em conformidade com o tema da exposição, “Superfine: Tailoring Black Style”, e o foco na roupa masculina. De acordo com o Met, o código de vestuário foi “propositadamente concebido para fornecer orientação e convidar a uma interpretação criativa”.
A passadeira vermelha de Nova Iorque voltou a ser palco de ousadia, Arte e Moda na sua forma mais performativa. Celebridades desfilaram interpretações arrojadas do “código de vestuário” “Tailored for You”, desafiando convenções com peças sob medida de elevada carga simbólica. O evento deste ano destacou-se pelo diálogo entre tradição e reinvenção, com uma homenagem clara à herança cultural afro-americana. Em atualização.
Met Gala: na “festa do ano” da moda celebrou-se ao estilo dos dandies. A passadeira vermelha (ou, neste caso, azul) estendeu-se na mediática escadaria do Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque. Era a noite maior da moda para a angariação de fundos do Costume Institute e as celebridades acorreram ao Met Gala. Todas deviam cumprir o “código de vestuário” “À sua medida” numa homenagem à alfaiataria e aos clássicos do vestuário masculino, em honra da nova exposição “Superfine: Tailoring Black Style” (Estilo Negro de Alfaiataria, em tradução livre). Mas só alguns cumpriram.
A edição de 2025, subordinada ao tema “Tailoring Black Style”, contou com a presença de artistas como Rihanna (que revelou a sua terceira gravidez), Bad Bunny (que recentemente anunciou a sua estreia em Portugal), Madonna, Dua Lipa, Stevie Wonder, Lana Del Rey, Shakira ou Pharrell Williams.
Marcaram também presença na Met Gala, que desde 1999 é organizada pela editora da revista Vogue, Anna Wintour, Kim Kardashian e a irmã Kylie Jenner, o apresentador Jimmy Fallon, as rappers Cardi B e Nicki Minaj ou a atriz Zendaya. Segundo o CEO do Metropolitan Museum of Art, a edição deste ano da Met Gala angariou, só com a venda de bilhetes (os ingressos individuais custavam 75 mil dólares, mais de 66 mil euros), um recorde de 31 milhões de dólares (mais de 27 milhões de euros). Wintour chegou à gala acompanhada do ator Colman Domingo e o automobilista britânico Lewis Hamilton, que ajudaram na organização do evento.
Este ano, os co-presidentes são Pharrell Williams, o actor Colman Domingo, o piloto de Fórmula 1 Lewis Hamilton, o músico A$AP Rocky e Anna Wintour, com Lebron James – estrela do basquetebol – como co-presidente honorário. O Met anunciou também o comité anfitrião deste ano, que inclui André 3000, Chimamanda Ngozi Adichie, Grace Wales Bonner, Simone Biles e Jonathan Owens, Jordan Casteel, Dapper Dan, Doechii, Ayo Edebiri, Edward Enninful, Jeremy O Harris, Branden Jacobs-Jenkins, Rashid Johnson, Regina King, Spike Lee e Tonya Lewis Lee, Audra McDonald, Janelle Monáe, Jeremy Pope, Angel Reese, Sha’Carri Richardson, Olivier Rousteing, Tyla, Usher e Kara Walker.
A exposição da primavera de 2025 do Costume Institute tem como tema: “Superfine. Tailoring Black Style” –o fundamento da mostra está patente no dandismo negro e examina a importância do vestuário e do estilo para a criação das identidades negras na difusão atlântica. A primeira exposição do Costume Institute desde “Men in Skirts” (de 2003) a centrar-se exclusivamente no vestuário masculino, a exposição inspira-se no livro de 2009 da co-curadora Monica Miller, “Slaves to Fashion: Black Dandyism and the Styling of Black Diasporic Identity”, no qual Miller estabelece o dandismo negro como uma construção estética e política. A exposição esta organizada pelas 12 características do dandismo negro, um princípio inspirado num ensaio de Zora Neale Hurston de 1934, “The Characteristics of Negro Expression”. “Os designers contemporâneos envolvidos – incluindo Grace Wales Bonner, Pharrell Williams e o falecido Virgil Abloh” –, observa Miller, “são muito versados no tipo de temas que abordamos na exposição, [questões] relacionadas com a raça e o poder, com a imigração, escravatura, colónias e colonização, capacitação, alegria, estética”.
O código do vestuário “dress code” deste ano foi “Sob Medida para Você”, uma referência ao foco da exposição na alfaiataria e moda masculina. De acordo com o Met, o código de vestuário foi “propositadamente concebido para fornecer orientação e convidar a uma interpretação criativa”.
Exposição
A mostra: “Superfine: Tailoring Black Style” explora a importância do estilo alfaiataria na formação das identidades negras está patente no Met Fifth Avenue de 10 de Maio a 26 de Outubro de 2025.
A exposição apresenta um exame cultural e histórico do estilo negro do século XVIII até aos dias actuais por meio da exploração do conceito de dândi. Para dar vida a esse tema rico, diversos artistas contribuíram para o evento com conceitos que ampliam os tópicos abordados na curadoria.
Na sua primeira criação de design expositivo, a artista Torkwase Dyson utiliza as suas características “hiperformas” para criar uma série de esculturas monumentais autónomas, ou “zonas arquitectónicas”, projectadas para abrigar questões sobre a vida negra — relacionadas à reflexão, teatralidade, escala, libertação, voo e transcendência — e ampliar momentos de tensão entre movimento, escala e exibição na experiência dos visitantes.
A mostra interpreta o conceito tanto como uma estética quanto como uma estratégia, utilizando roupas, pinturas, gravuras, fotografias, artes decorativas, textos literários e filmes para explorar esse fenômeno cultural e histórico do século XVIII até os dias actuais.
“Superfine Tailoring Black Style” está organizada em 12 secções, cada uma representando uma característica que define esse estilo: Propriedade, Presença, Distinção, Disfarce, Liberdade, Campeão, Respeitabilidade, “Jook”, Herança, Beleza, Estilo (“Cool”) e Cosmopolitismo. Juntas, essas características demonstram como a figura é definida e se Auta estiliza, e como o seu estilo suscita noções de assimilação, distinção e resistência — tudo isso enquanto conta uma história sobre o eu e a sociedade, influenciada por raça, género, classe e sexualidade.
Monica L. Miller, curadora convidada e presidente do Departamento de Estudos Africanos da Barnard College, Columbia University, disse: “O dândismo pode parecer frívolo, mas muitas vezes representa um desafio ou uma transcendência das hierarquias sociais e culturais. Ele levanta questões sobre identidade, representação e mobilidade em relação à raça, classe, género, sexualidade e poder. A exposição explora esse conceito tanto como uma declaração quanto como uma provocação. O título da exposição refere-se a ‘superfine’ não apenas como a qualidade de um determinado tecido — ‘lã superfina’ —, mas também como uma atitude particular relacionada a se sentir especialmente bem no próprio corpo, com roupas que expressam o eu. Vestir superfino e ser superfino são, de muitas maneiras, o tema desta exposição. E a separação, distinção e movimento entre esses dois estados de ‘ser’ na difusão africana, dos anos 1780 até hoje, animam a mostra.”
Andrew Bolton, curador responsável do The Costume Institute, comentou: “Superfine: Tailoring Black Style é a primeira exposição do nosso departamento dedicado à moda masculina há mais de 20 anos. A mostra também reflecte o nosso compromisso contínuo com a diversificação das nossas exposições de maneira autêntica ao Costume Institute. O que torna possível traduzir o livro de Monica, “Slaves to Fashion”, numa exposição é nossa colecção de moda masculina de alta-costura, que serve como base para imaginar e realizar essa importante história sartorial.”
A estrutura conceitual da exposição é inspirada no ensaio de 1934 de Zora Neale Hurston, “Characteristics of Negro Expression”. Com excepção de “Jook”, cada uma das 12 características apresentadas na exposição foi recém-seleccionada por Miller e pela equipa curatorial do Costume Institute. As primeiras seis secções são compostas principalmente por objectos históricos, enquanto as seis finais apresentam predominantemente peças do século XX em diante.
Entre as seis primeiras secções:
O Disfarce examina uma característica anterior da moda — como ela pode ser usada para ocultar e revelar, particularmente para os escravizados, que compreendiam que a roupa e o modo de vestir os marcavam como indivíduos. Esta secção mostra como raça, classe e o uso de vestimentas de géneros distintos permitiram que pessoas negras expressassem como a identidade depende das convenções do vestuário e pode ser manipulada por elas. São destacados nesta secção os relatos do casal anteriormente escravizado Ellen e William Craft, que fugiram da Geórgia para a Filadélfia em 1848, além dos proeminentes artistas do século XX Ralph Kerwinoe e Stormé De Lavarie, que usavam roupas masculinas como expressão de suas identidades de género não conformistas. Entre os objectos em exibição estão a ilustração de abertura das memórias dos Crafts, publicadas em 1860, uma cartola datada de 1855 e um casaco da colecção outono/inverno 2024–25 da marca “Who Decides War”.
A secção Campeão explora o papel do “uniforme” e como o vestuário desportivo pode iluminar a história da discriminação e dos estereótipos sobre homens negros no desporto, assim como a forma como o sucesso atlético pode ser um modo de distinção e uma via para o reconhecimento como ícone de estilo.
Os objectos nesta secção variam desde jaquetas de jóquei do século XIX até uma edição de 1974 da revista “Jet” com Walt Frazier na capa — um dos primeiros atletas negros a ter um grande contrato de calçados, com a Puma — e conjuntos de Saul Nash e Denim Tears.
Respeitabilidade considera a política da assimilação, activismo, e as maneiras pelas quais líderes políticos e culturais negros, como W.E.B. Du Bois e Frederick Douglass, há muito compreendiam o cuidado com a aparência e o vestuário como ferramentas de poder e distinção. As tradições de alfaiataria eram frequentemente transmitidas dentro das famílias negras na difusão africana; desde o final do século XIX, estudantes negros podiam aprender essas técnicas como parte da sua formação nas faculdades e universidades historicamente negras (HBCUs), que foram essenciais para a criação de uma vanguarda negra progressista. Os objectos em exibição incluem peças pertencentes e usadas por Douglass, fotografias de Du Bois, um casaco de André Leon Talley e um conjunto da colecção Polo Ralph Lauren “Exclusively for Morehouse and Spelman Colleges” de 2022.
Outra secção, Beleza, inspirada num poema de 1969 de Nikki Giovanni, destaca a beleza, confiança e puro esplendor do estilo e das atitudes que começaram a emergir entre os homens negros nas décadas de 1970 e 1980. Após os movimentos de justiça social dos anos 1960, homens negros converteram sua invisibilidade social anterior numa forma de radiância que dependia da sua hipervisibilidade, orgulho e ousadia, permitindo a experimentação com normas de masculinidade, identidade de género e sexualidade. Rejeitando estereótipos da masculinidade negra como simplesmente “forte” e “dura”, os guarda-roupas passaram a incluir couro e tecidos drapeados, rendas, babados e lantejoulas, enfatizando um modo de vestir que atravessa o espectro de género como parte do seu poder transgressor. Destacam-se nesta secção conjuntos contemporâneos de Marvin Desroc, Theophilio e LaQuan Smith.
O Estilo (Cool) examina a adopção de roupas casuais estilizadas que revolucionaram a moda dos anos 1960 aos 1980, com designers negros e os usuários das suas roupas no centro da redefinição de como as pessoas se vestem para o trabalho e o lazer.
Blazers , agasalhos desportivos e jeans, nascidos de uma resistência à formalidade restritiva, demonstram a arte de ser despreocupado e ágil — mesmo na política, onde o casaco Kariba substituiu o casaco ocidental como traje formal oficial na Jamaica nos anos 1970. Essa forma de comunicação com leveza.
A sua forma despreocupada comunica o “cool”, um conceito indefinível que depende da criação de um clima ou atmosfera em que moda, acessórios, pose e modo de andar se unem para atrair atenção e desejo. Exemplificando essa abordagem indiferente, mas altamente curada, de autopresentação estão representadas nas peças de Botter, Grace Wales Bonner e Bianca Saunders.
Theresa Beco de Lobo