Educação I As Bibliotecas Escolares

Neste número homenageamos as bibliotecas com um artigo onde tentamos realizar uma viagem no tempo ao longo da sua existência e agora, no nosso espaço dedicado habitualmente à Educação revelou-se oportuno um breve olhar sobre as bibliotecas escolares.

Desde que em 1996 foi criada a Rede de Bibliotecas Escolares (RBE), Portugal tem vivido um longo processo que tende a valorizar e modernizar estes espaços educativos que gradualmente se têm tornado nichos lúdicos numa partilha de interesses onde também entram os encontros e/ou actividades temáticas.

O foco, à partida e teoricamente, está centrado na literacia. Ou seja, promover a leitura e a descodificação compreensiva da informação de vária índole, incluindo a veiculada pelos media, é o princípio orgânico das bibliotecas escolares. Mas as bibliotecas nas escolas vão além disso. Trabalhando com professores que possam garantir a interdisciplinaridade, as bibliotecas escolares acabam por se assumirem como um grande palco de actividades complementares como clubes de leitura, palestras, exposições, concursos, comemoração de datas significativas.

Infelizmente, mesmo sendo Portugal um país pequeno, ainda assim existem disparidades e desigualdades, em termos de espaço, orçamento e recursos humanos qualificados, entre a realidade vivida nas grandes cidades e a existente nas zonas de ruralidade mais determinante.

Mesmo ao nível da digitalização e apesar dos esforços desencadeados, também neste aspecto assiste-se a contrastes regionais.

Se compararmos Portugal com o resto da Europa, chegamos facilmente à conclusão de que o nosso país se enquadra num registo paralelo com os países do leste e sul do continente distanciando-se dos do Norte onde o investimento é claramente superior, incluindo em professores especializados, e onde também existe uma forte tradição de leitura ao contrário das nações do sul.

Assim, podemos afirmar que Portugal se coloca, ao nível do crescimento da sua RBE, numa posição intermédia entre os países com sistemas mais robustos (como os nórdicos) e aqueles com menos desenvolvimento nessa área.

Porém, também é forçoso estarmos atentos a algumas questões que podem, eventualmente, serem sintomas de uma crise de identidade das bibliotecas escolares. De facto, e perante um afastamento, que tem vindo a acentuar-se, dos alunos em relação aos livros e uma evidente dificuldade em manterem por tempo alargado níveis de concentração aceitáveis, as bibliotecas têm acentuado e reforçado a sua faceta mais lúdica proporcionando, a par do estudo e leitura, o desenvolvimento de diversas actividades recreativas em simultâneo. Acontece que a confusão e ruído que naturalmente um ambiente de entretenimento provoca, comprometem a tranquilidade do silêncio necessário a quem ali pensa encontrar um refúgio para estudar. Dependendo da professora bibliotecária pode inclusive ser permitido aos alunos permanecerem entretidos com jogos de tabuleiro ou simplesmente a brincar com o telemóvel.

O termo ludoteca designa um espaço especialmente criado para promover a brincadeira, a diversão e a aprendizagem através de jogos, brinquedos e atividades lúdicas. Quando se pretende ter biblioteca e ludoteca juntas, partilhando espaço e tempo simultâneos, haverá, certamente, um conflito de interesses e de objectivos resultantes da exigência de silêncio de uma com a natural produção de ruido da outra.

Actualmente muitas bibliotecas escolares apresentam uma tendência de promoção do entretenimento, que deveria ser debatida a um leque alargado da comunidade, porque as tem tornado em espaços de lazer recreativo permitindo o acesso a jogos, visionamento de filmes, sala de estar para uso do telemóvel. Vejamos, uma biblioteca pode ser muita coisa se tiver espaços diferenciados para várias funções. Mas o espaço da leitura e do estudo deve continuar a obedecer a critérios que garantam a tranquilidade e o silêncio para a necessária introspecção. Há quem goste e prefira estar envolvido de ruído ou de música. Felizmente hoje existe um recurso fantástico: auscultadores. E isto no caso de não ser possível a requisição de livros permitindo que os mesmos possam ser consultados e trabalhados noutro ambiente.

Por outro lado, e num momento em que se discute, e bem, os riscos do uso excessivo do telemóvel, favorecer o visionamento de vídeos/animações de curtíssima duração, jogos de cariz violento ou até conversas em redes sociais é, no mínimo, muito estranho e que carece de discussão séria e fundamentada.

A Educação escolar continua a galgar terrenos armadilhados detonando-se a si própria e estilhaçando-se em mil pedaços que divagam perdidos desvirtuando a missão essencial da Escola. As bibliotecas escolares tendem a ser um desses estilhaços que vagueiam perdidos.

O esforço iniciado em 1996, não deve perder o seu objectivo primordial: promover a literacia e o conhecimento!

Importante não esquecer!

Paula Timóteo

Paula Timóteo

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