O Fine Arts Museums of San Francisco irá apresentar a mostra notável “Manet & Morisot”, a primeira grande exposição do museu dedicada à troca artística entre Édouard Manet e Berthe Morisot: o grande pioneiro da pintura moderna e a membro fundadora feminina do grupo impressionista.
Este acontecimento mostra a grande amizade formativa entre os pintores franceses do século XIX Édouard Manet e Berthe Morisot
A relação mais próxima entre os dois artistas do círculo impressionista, desempenhou um papel fundamental no curso da arte moderna.
Com inauguração prevista para 11 de Outubro de 2025, no Legion of Honor, e apresentando obras-primas emprestadas de colecções públicas e privadas de ambos os lados do Atlântico, a mostra trará novas pesquisas que lançam uma nova luz sobre essa amizade — e, por extensão, sobre a história do Impressionismo.
Vivendo e trabalhando em Paris no final do século XIX, Manet e Morisot eram amigos
e colegas. A história do relacionamento deles se desenrolou ao longo de aproximadamente quinze anos (1868–1883), mas tem sido frequentemente contada por meio dos retratos que Manet pintou de Morisot entre 1868 e 1874, com Morisot retratada como musa e modelo, em vez de ser, como uma estimada colega.
Estudos mais recentes confirmam que, embora Morisot buscasse inspiração e aprovação em Manet no início da sua carreira, em meados da década de 1870 Manet passou a seguir o exemplo de Morisot, imitando a sua escolha de temas, cores e suas pinceladas leves e soltas. Por meio de pares e grupos cuidadosamente seleccionados de pinturas dos dois artistas, a exposição traçará a evolução da amizade e da influência mútua entre eles.
O evento é organizado por Emily A. Beeny, curadora-chefe do Legion of Honor e curadora responsável pelas Pinturas Europeias e Barbara A. Wolfe, uma especialista internacionalmente reconhecida na arte de Édouard Manet.
A mostra inicia-se com a amizade entre Manet e Morisot, com pinturas de Morisot realizadas por Manet, incluindo a obra-prima de 1868–1869, A Varanda. O relacionamento passou por uma mudança perceptível no início da década de 1870, quando a habilidade de Morisot como pintora ao ar livre lhe garantiu um lugar central no grupo impressionista, que realizou a sua primeira exposição independente em 1874. A próxima secção da mostra aborda essa mudança por meio de uma série de motivos e composições que os dois artistas trocaram entre si ao longo do tempo.
“Da década de 1870. A relação foi marcada por outra grande mudança em 1880, quando Morisot estreou um novo estilo ousado e esboçado de aplicação da tinta, e Manet se reinventou como pintor de mulheres elegantes — um tema já fortemente associado à sua colega. A secção dedicada a esse período reune pela primeira vez uma série de pinturas nas quais Morisot e Manet retrataram as quatro estações do ano como mulheres da moda: Verão (1878) e Inverno (1880), de Morisot, e as pinturas de Manet que elas inspiraram, Primavera e Outono (ambas de 1881). A exposição é concluída com uma secção que explora a colecção de Morisot das obras do seu amigo e como conviver com suas pinturas lhe permitiu continuar o diálogo artístico mesmo após a morte dele. A amizade entre esses dois grandes artistas — colaborativa e competitiva, lúdica e intensa — realmente teve um efeito determinante no curso da história da arte”, disse Emily A. Beeny. “Essa história está escrita nas suas pinturas. Ao considerá-los lado a lado, assistimos a tudo se desenrolar: os seus interesses e lutas compartilhados, a sua influência mútua e compreensão.”
Sobre os Artistas
Édouard Manet (1832–1883) nasceu numa família parisiense de classe média alta e cultivou a reputação de cavalheiro refinado, apesar de frequentemente pintar temas escandalosos. Frequentava cafés da moda, onde fez amizade com diversos futuros membros do círculo impressionista, que o viam como uma espécie de profeta e porta-estandarte da sua nova forma de pintar. Como dama da sociedade, Morisot era excluída desses espaços de entretenimento público. O primeiro encontro de Manet com ela parece ter ocorrido no Louvre, onde, como Morisot, ele copiava os antigos mestres.
Embora nunca tenha exposto as suas pinturas nos Salões Impressionistas, Manet foi um participante activo e um candidato frequente ao mais tradicional Salão de Paris, na Escola de Belas Artes, ao longo da sua carreira. Em 1861, obteve o seu primeiro sucesso retumbante com O Cantor Espanhol, uma obra inspirada nos seus ídolos artísticos Diego Velázquez e Francisco de Goya, apenas para ser rejeitado no Salão seguinte, em 1863. Uma das suas pinturas recusadas, Almoço na Relva, que retrata uma mulher nua fazendo piquenique com dois homens vestidos, causou escândalo e furor, tanto pela sua superfície brusca e “inacabada” quanto pelo seu tema moderno e chocante. Nesse mesmo ano, a morte do seu pai, que desaprovava a sua carreira, permitiu que Manet se casasse com a sua modelo de longa data e ex-professora de piano, Suzanne Leenhoff.
Manet continuaria a submeter os seus trabalhos ao júri pelo resto da vida, exibindo pinturas com uma paleta cada vez mais vibrante e um estilo cada vez mais solto, próximo ao de Morisot. Por muito tempo considerado o “ovelha negra” do mundo artístico parisiense, ele só recebeu reconhecimento oficial — uma medalha do Salão, admissão na Legião de Honra e o início de um mercado estável para suas obras — nos últimos anos de sua vida. Apesar das dificuldades após o seu sucesso inicial, Manet é hoje celebrado como o “pai da arte moderna”, cujas contribuições revolucionárias moldaram o rumo da pintura contemporânea.
Berthe Morisot (1841–1895) foi uma das principais figuras do movimento impressionista e a sua única integrante fundadora do sexo feminino. Nascida numa família parisiense da alta burguesia, aprendeu a desenhar como um refinamento social, mas rapidamente demonstrou talento suficiente para receber um treinamento mais especializado. No início da sua prática, estudou com Jean-Baptiste-Camille Corot, que a incentivou a pintar ao ar livre — uma técnica essencial para o desenvolvimento da sua obra posterior.
A partir de 1858, Morisot passou a copiar obras-primas no Louvre, onde um amigo em comum a apresentou a Manet. No outono daquele ano, ela começou a posar para A Varanda. Essa pintura foi a primeira de pelo menos dez obras de Manet para as quais Morisot posou nos cinco anos seguintes, passando inúmeras horas no seu atelier, observando os seus métodos e trocando ideias.
Em janeiro de 1874, Morisot ficou noiva de um dos irmãos de Manet, Eugène. No mesmo ano, contra o conselho de Manet, ela decidiu abandonar o Salão de Paris e expor com o grupo impressionista nascente, participando da primeira exposição colectiva do grupo. Tornou-se uma das integrantes mais assíduas do grupo, expondo as suas obras em todas, excepto uma, das oito exposições vanguardistas realizadas, e desenvolvendo um estilo característico marcado por pinceladas leves e uma paleta luminosa. Nos últimos anos de vida, concentrou-se na família e a sua obra assumiu um tom mais onírico, com tendências ao Simbolismo. Após a sua morte, em 1895, a sua reputação entrou em declínio, mas foi redescoberta nos anos 1980 por historiadoras feministas da arte.
Com inauguração marcada para 11 de Outubro de 2025 no Legion of Honor e em cartaz até 1 de Março de 2026, Manet & Morisot é a primeira exposição académica no museu dedicada a examinar a influência mútua que esses dois pintores franceses exerceram um sobre o outro. Após sua apresentação no Legion of Honor, a exposição seguirá para Cleveland, onde será exibida no Cleveland Museum of Art de 29 de Março a 5 de Julho de 2026.
As pinturas destes dois artistas mostram uma forte nitidez, um colorido preciso e intenso e uma composição bem estruturada. Por este processo, Manet e Morisot foram criadores de imagens, mais do que reprodutores de elementos da natureza. Estas imagens visuais, depositárias de valores plásticos e de grande qualidade pictórica, fizeram com que nós tenhamos vibrado por trazer aos nossos leitores uma das muitas maravilhas da pintura – a dos grandes artistas Manet e Morisot.
Theresa Bêco de Lobo