1925-2025 I Cem Anos de Art Deco

No Musée des Arts Décoratifs, Paris

Cem anos após a Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas de 1925, que projectou a Art Deco no cenário mundial, o Musée des Arts Decoratifs celebra esse estilo ousado, refinado e resolutamente moderno. De 22 de Outubro de 2025 a 22 de Fevereiro de 2026, “1925-2025. Cem anos de Art Deco” propõe uma viagem ao coração da criação dos anos loucos e das suas obras-primas patrimoniais. Mobiliário escultural, jóias preciosas, objectos de arte, desenhos, cartazes e peças de moda: cerca de 1.000 obras contam a riqueza, a elegância e as contradições de um estilo que continua a fascinar.

Cenografia emersiva, materiais sumptuosos, formas estilizadas e “savoire-faire” de excepção, compõem um percurso vivo e sensorial, onde a Art Deco revela todas as suas facetas.
A exposição abre-se de forma espetacular com o mítico Orient Express, verdadeira jóia do luxo e da inovação.

Uma cabine do antigo comboio “Étoile du Nord”, assim como três maquetes do futuro “Orient Express”, reinventado por Maxime d’Angeac, ocupam a nave principal do museu. Um convite para explorar um universo onde a arte, a beleza e o sonho se inventam no presente como em 1925. O comissariado geral da exposição é assegurado por Bénédicte Gady, directora interina dos museus, e o comissariado por Anne Monier Vanryb, conservadora das colecções modernas de 1910-1960, numa cenografia do Atelier Jodar e do Studio MDA.

Nascido na década de 1910, no rastro das reflexões europeias sobre a ornamentação, a Art Deco inspirou-se nas pesquisas da Art Nouveau. Desenvolveu-se plenamente nos anos 1920 e distinguiu-se por uma estética estruturada, geométrica, elegante, que alia modernidade e preciosidade. As suas formas seduzem decoradores, arquitectos e fabricantes da época, mas permaneceram muitas vezes reservadas às camadas sociais mais abastadas, devido ao alto custo dos materiais e à delicadeza das técnicas aplicadas naquele período. A Art Deco encarna uma época vibrante, marcada por uma sede de novidade, velocidade e liberdade. Ela abrange todos os domínios da criação: mobiliário, moda, joalharia, artes gráficas, arquitectura, transportes… A exposição revisita, assim, as diferentes tendências da Art Deco, entre a abstracção geométrica afirmada de Sonia Delaunay e Robert Mallet-Stevens, a pureza formal de Georges Bastard e Eugène Printz, ou ainda o gosto pelo decorativo de Clément Mère e Albert-Armand Rateau.

O Musée des Arts Decoratifs desempenhou um papel central no reconhecimento da Art Deco desde os seus primórdios, ao acolher os salões da Sociedade dos Artistas Decoradores e ao constituir uma colecção de riqueza excepcional. A exposição «1925-2025. Cem anos de Art Déco» recorre a este acervo notável, enriquecido com obras emprestadas por grandes instituições e colecções privadas, para apresentar peças emblemáticas: a cómoda em shagreen de André Groult, as criações refinadas de Jacques-Émile Ruhlmann ou ainda a espetacular escrivaninha-biblioteca de Pierre Chareau, concebida para a Embaixada Francesa e reinstalada nesta ocasião.
Três criadores de destaque – Jacques-Émile Ruhlmann, Eileen Gray e Jean-Michel Frank – são colocados em evidência, cada um representando uma faceta singular da Art Deco.

A partir do fim da década de 1960, o museu também se impôs como pioneiro na redescoberta do estilo, nomeadamente com a exposição “Os Anos 25”, que reavivou o interesse do público e dos especialistas. Esse renascimento prossegue nas décadas seguintes, impulsionado nos anos 1970 por figuras de destaque como Yves Saint Laurent, apaixonado pelo Art Deco, e o seu cúmplice, o decorador Jacques Grange, a quem o museu oferece carta branca dentro da exposição.

Organizada segundo um vasto percurso cronológico e temático que se estende pela nave e pelas galerias do 2º e 3º andares do museu, a exposição retrata as origens, o apogeu, o desenvolvimento e as reinterpretações contemporâneas do Art Deco. Ela revela a riqueza e a actualidade de um movimento em constante evolução, através de mais de mil obras.

Todos os domínios da criação artística e da decoração estão representados.
As notáveis lacas de Jean Dunand convivem com os vidros de François Décorchemont, a marcenaria fina, as artes da mesa e também a joalharia, ilustrada por peças de modernidade impressionante, entre elas uma série de alfinetes de Raymond Templier e de Jean Desprès.

O papel fundamental do desenho é evidenciado através de projectos decorativos, de arquitectura de interiores e de mobiliário, em especial os desenhos de Groult para o quarto da Senhora no pavilhão da Embaixada Francesa, que dialogam com a cómoda que é um dos raros vestígios.

O universo da moda e das artes têxteis é representado pela capa de Madeleine Pangon, o vestido com pequenos cavalos de Madeleine Vionnet, uma jaqueta criada por Sonia Delaunay, um vestido de Jeanne Lanvin, mas também por desenhos de tecidos e projetos de vitrines de lojas.

Símbolo da viagem refinada e do savoir-faire francês, o Orient Express viveu a sua idade de ouro nos anos 1920. Decorado por grandes artistas como René Prou ou René e Suzanne Lalique, tornou-se um manifesto itinerante da estética Art Déco. Cem anos depois, esse mito renasce. A exposição revela com exclusividade, na Nave do museu, maquetes em tamanho real dos interiores do futuro Orient Express, reinventados pelo diretor artístico Maxime d’Angeac, em diálogo com uma cabine Art Déco de 1926 proveniente das colecções do museu. Inspirando-se na herança do estilo e no universo dos ofícios artísticos, o seu projecto funde artesanato de excelência, inovações tecnológicas e design contemporâneo para inventar o comboio do século XXI.
Em 2025, como em 1925, a Art Déco inspira um luxo voltado para o futuro.

Um conjunto excepcional de peças, algumas apresentadas pela primeira vez ao público, está exposto em diálogo com as colecções do museu de Paris e permite medir o impacto desse estilo no domínio da joalharia.
Mais de 80 objectos – colares, diademas, relógios, “nécessaires”, desenhos e documentos de arquivo – ilustram a criatividade formal e a riqueza simbólica das criações da “maison”. Entre a geometria rigorosa e a sensualidade das matérias, motivos inspirados no Oriente e inovação técnica, essas peças encarnam a estética do luxo Art Deco, reflectindo ao mesmo tempo a evolução dos gostos de uma clientela internacional cosmopolita, em busca de distinção e modernidade.

Um século após o seu surgimento, a Art Deco continua a inspirar pela sua modernidade, elegância e liberdade de formas. Ao cruzar os olhares de ontem e de hoje, a exposição mostra o quanto este movimento permanece vivo, em ressonância com as questões estéticas e os saber-fazer contemporâneos. Mais do que uma homenagem ao passado, ela convida a repensar a Art Deco como uma fonte sempre fecunda de criação e inovação.

Theresa Bêco de Lobo

Theresa Bêco de Lobo

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