Serralves apresenta, pela primeira vez, em Portugal, Alvar Aalto: uma das figuras mais influentes da história da arquitectura, que explora o seu legado.
Antecipando os 50 anos da morte de Alvar Aalto, uma das maiores figuras da história da arquitectura, esta exposição destaca a extensa obra desenvolvida com ambas as mulheres. A família Aalto revolucionou a vertente humanista da arquitectura moderna, radicando-a numa ligação orgânica à natureza e produzindo inúmeras peças de design.
Entre duas guerras mundiais, os Aaltos criaram uma identidade para a jovem nação finlandesa, participando nos Congressos Internacionais de Arquitectura Moderna e nas Exposições de Paris e Nova lorque, concebendo obras-primas como: a Biblioteca de Viipuri, hoje na Rússia, a Villa Mairea, na Finlândia, a Baker House, nos Estados Unidos, ou a Maison Carré, em França. No advento dos antibióticos, será o seu Sanatório em Paimio a dar um exemplo ao mundo sobre a acessível salubridade dos espaços, estudando a incidência solar, a ventilação natural e até lavatórios silenciosos. Esse é o primeiro dos treze projectos actualmente nomeados a Património Mundial da UNESCO.
Juntos, os Aalto criaram uma arquitectura única, com um forte vínculo à natureza, que se reflecte até aos dias de hoje. Obras como a Villa Mairea e o Sanatório de Paimio são exemplos marcantes do pensamento humanista que Aalto incorporou em cada projecto. A sua visão transformadora deixou uma marca permanente na arquitectura moderna, respeitando sempre a funcionalidade e o bem-estar humano.
Um conjunto de 31 projectos de arquitectura do estúdio de Alvar Aalto (1898-1976), realizados pelo arquitecto finlandês com as duas mulheres, estão agora patentes em exposição em Serralves, no Porto.
A mostra está instalada na ala Álvaro Siza do Museu de Serralves, uma das muitas ligações entre os dois arquitectos, e coloca em destaque um dos nomes mais influentes do século XX, sobretudo do período entre guerras mundiais, patente até 4 de Janeiro de 2026.
“Há um investimento dos três (Alvar, Aino e Elissa) num conjunto de obras que vem dos anos 1920 até 1994, ano da morte da segunda mulher (Elissa Aalto, 1922-1994), que termina postumamente alguns projectos de Alvar. Temos 31 projectos, nos 31 anos da morte de Elissa, e assinalamos os 50 anos (da morte do arquiteto), que serão em 2026, quando termina a exposição”, afirma o curador, António Choupina.
O director de Arquitectura da Fundação de Serralves, que desenhou a mostra em colaboração com o Museu Alvar Aalto, na Finlândia, salienta como as duas mulheres de Alvar Aalto “geriam, na prática, o escritório”, enquanto o arquitecto participava em congressos internacionais, dava aulas no Massachussets Institute of Technology (MIT) e fazia outras actividades que dinamizavam o funcionamento do estúdio.
No período entre guerras, desenhou edifícios emblemáticos, como o Sanatório de Paimio, uma resposta à gripe espanhola do início do século, tendo em conta a salubridade, iluminação e outras necessidades dos enfermos, mas também “lavatórios silenciosos, em que a água toca na cerâmica num ângulo específico”.
A criação da Artek, loja própria de mobiliário e design de onde saíram várias peças que hoje são conhecidas do público em geral (os bancos ‘empilhados’, redondos e com pernas alçadas, são disso exemplo), é outra das marcas do trabalho deste estúdio.
Tido como discreto e menos afamado a par de outros contemporâneos, como Le Corbusier ou Frank Lloyd Wright, o finlandês protagonizou, com a primeira mulher, Aino Marsio-Aalto (1894-1949), “o primeiro ‘power couple’ do mundo da arquitectura”, tendo desenhado o pavilhão da Finlândia para as Expo de Paris e Nova Iorque, tornando-se “figuras bastante conhecidas no meio”.
O impacto que tiveram sentiu-se também em Portugal, e Choupina conta que Álvaro Siza, quando. foi informado a comprar revistas do sector, adquire em 1950 um exemplar da “L’Architecture d’Aujourd’hui” a ele dedicada.
“Vai influenciar imenso a sua obra. (Mais tarde, em 1988) ganha a medalha Alvar Aalto, uma peça que está i na exposição, aliás. Para Siza, é uma figura seminal. Os Aalto, naquele período, inventaram uma linguagem contemporânea para a jovem Finlândia do pós-guerra. Era, no fundo, o que procuravam os jovens arquitectos em Portugal, também”, afirma o curador.
Essa vontade de “criar uma identidade portuguesa de uma arquitectura que fosse moderna mas, ao mesmo tempo, local”, com materiais e técnicas típicas do país, liga os dois arquitectos numa mesma “ideia optimista de que um bom desenho pode transformar o mundo”, sobretudo no espírito do ‘Homem Novo’ que guiou o período pós-guerra na Europa.
“Pareceu-nos importante, desde início, que ambas as mulheres figurassem na exposição com a mesma equidade de Alvar. Daí o título da exposição ser apenas ‘Aalto’. Na realidade, são elas que garantem que a obra é feita e continua”, acrescenta.
Esse trabalho contínuo, até depois da morte de Alvar, é aqui realçado até no roteiro da exposição, que termina na Igreja de Santa Maria da Assunção, em Riola di Vergato, Itália, acabada postumamente.
Através da exposição podem-se admirar 15 salas com projectos de museus no Iraque e no Irão, bibliotecas por todo o mundo, a Ópera Aalto em Essen, na Alemanha, igrejas, complexos habitacionais, universidades, fábricas e até uma redação de jornal, do Turun Sanomat em Turku, passando por trabalhos mais conhecidos como a Casa Louis Carré ou a Biblioteca Viipuri.
De referir que um dos grandes inspiradores de Siza Vieira foi Aalto que pode ser agora visto no Museu de Serralves até 4 de Janeiro de 2026.
Theresa Bêco de Lobo