Tesouro Reais I Obras-primas do Terra Sancta Museum

Tesouro dos Reis I Obras-primas do Terra Sancta Museum

A exposição agora patente na Fundação Calouste Gulbenkian apresenta o extraordinário e pouco conhecido tesouro artístico do Terra Sancta Museum, composto de doações realizadas por monarcas católicos europeus a várias igrejas daquele território ao longo de 500 anos, que vem pela primeira vez de Jerusalém para Portugal.

De entre estas igrejas, a Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém, destaca-se em relação aos outros templos. Na tradição cristã, este é o local da morte, sepultamento e ressurreição de Jesus de Nazaré. Considerando este lugar espiritual, o envio de ofertas para este e outros templos da Palestina representava, para estes príncipes, uma importante projecção da sua devoção e do seu poder.

Assim, diversos soberanos europeus, como Filipe II de Espanha, Luís XIV de França, João V de Portugal, Carlos VII de Nápoles ou Maria Teresa de Áustria, enviaram recursos materiais e financeiros destinados ao sustento das igrejas e comunidades locais, tais como moedas de ouro, cera e, também no caso português, bálsamos, perfumes, especiarias e chá.

Para além destes recursos de carácter efémero, foram igualmente alvo da generosidade destes monarcas obras artísticas de ourivesaria, têxteis e mobiliário, com o objectivo de serem utilizados no culto e na ornamentação dos espaços religiosos.

A mostra expõe uma centena de obras-primas que fazem um percurso milenar pela Terra Santa, através de doações de monarcas e príncipes.

A exposição Tesouro dos Reis — Obras-primas do Terra Sancta Museum, ficará patente até 26 fevereiro de 2024, esteve em preparação desde 2021, e reúne um conjunto composto por exemplos de doações régias à Terra Santa, raramente mostrados ao público, segundo a Gulbenkian.

As peças chegaram ao Museu Gulbenkian este verão, tendo um conjunto de cerca de 40 obras sido objecto de conservação e restauro realizado em colaboração com o Laboratório José de Figueiredo, em Lisboa.

O trabalho de conservação e restauro foi efectuado por uma equipa composta por mais de uma dezena de técnicos que se dedicou a este trabalho, ao longo de vários meses, nas reservas e nos laboratórios do Museu Gulbenkian, indica a equipa do museu de Lisboa.

Estas peças “poderão ser vistas com o brilho e o fulgor de outros tempos, em contexto com pinturas, livros e documentos de vários museus e bibliotecas nacionais”, na Galeria Principal da Fundação Gulbenkian, que a realiza em parceria com a Custódia da Terra Santa e o Terra Sancta Museum de Jerusalém.

Lugar de uma profunda simbologia espiritual, a Basílica do Santo Sepulcro em Jerusalém tornou-se, ao longo dos séculos, um importante centro de projecção da devoção e do poder dos reis e príncipes católicos europeus”, recorda um membro da fundação sobre a exposição, relembrando doações de João V de Portugal, Filipe II de Espanha, Luís XIV de França, Carlos VII de Nápoles e Maria Teresa de Áustria.

Conjuntos artísticos de ourivesaria, têxteis ou mobiliário foram doados para serem utilizados, sobretudo, no culto e na ornamentação da Basílica do Santo Sepulcro, como a lâmpada de igreja em ouro enviada por D. João V, com as armas nacionais, ou o grande baldaquino (para colocação de custódia ou crucifixo) ofertado por Carlos VII, rei de Nápoles, peças incluídas nesta exposição, que tem como comissário científico Jacques Charles-Gaffiot, historiador de arte e autor, membro do comité científico do Terra Sancta Museum, e como comissário executivo André Afonso, conservador do Museu Calouste Gulbenkian.

Além das produções da arte europeia, os monarcas e príncipes enviavam também recursos materiais e financeiros destinados ao suporte das igrejas e comunidades locais, tais como moedas de ouro, cera e azeite, e ainda, de forma muito frequente no caso português, bálsamos, perfumes, especiarias e chá provenientes do Oriente, aponta o comunicado.

Tendo como ponto central estas doações, a exposição estabelece ainda um percurso pela história milenar e simbolismo espiritual da Basílica do Santo Sepulcro, destacando o papel da Custódia da Terra Santa — a instituição católica franciscana responsável por zelar pelos lugares cristãos na Terra Santa — que desde 1342 se manifesta como guardiã deste extraordinário património arqueológico, artístico e litúrgico.

Iniciado há cerca de uma década, o projecto do Terra Sancta Museum inclui um núcleo arqueológico, já aberto ao público, no Convento da Flagelação de Jerusalém, e a segunda parte do projecto confere a criação de um núcleo para albergar as colecções históricas e artísticas.

Actualmente em obras, esta secção do Terra Sancta Museum ficará situada no Convento de São Salvador, em plena Cidade Velha de Jerusalém, estando a data de abertura prevista para 2026.

Até lá, algumas das obras vão poder ser vistas numa viagem com início em Portugal, passando por Espanha, Itália e, finalmente, por Nova Iorque, na F rick Collection.

Na exposição de Lisboa, “o vínculo religioso e afectivo da família Gulbenkian à Terra Santa é também evocado, apresentando-se, pela primeira vez em Portugal, um Livro de Evangelhos arménio do século XV que Calouste Gulbenkian ofereceu ao Patriarcado Arménio de Jerusalém no final da década de 1940, numa altura em que já residia em Portugal”, afirmou a Fundação.

Além do património da Terra Sancta Museum, estão expostas peças do Museu Nacional de Arte Antiga, Museu Calouste Gulbenkian, Museu Nacional de Machado de Castro, Museu Nacional do Azulejo, Palácio Nacional da Ajuda, Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios de Moita do Norte (Diocese de Santarém), Biblioteca Nacional de Portugal, Biblioteca de Arte e Arquivos Gulbenkian, e Patriarcado Arménio de Jerusalém.

Theresa Bêco de Lobo

Theresa Bêco de Lobo

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