Disputa mundial das porcelanas portuguesas


Disputa mundial das porcelanas portuguesas

Da arte oriental sempre nos atraíram, os marfins, os têxteis, os móveis, as lacas e, principalmente, as porcelanas da Companhia das Índias. Esta última é das áreas mais conhecidas e estudadas entre nós.

No nosso País existem colecções Únicas de porcelmnas denonimadas de Companhia das Índias, destacando-se os núcleos dos museus de Arte Antiga, e de Anastácio Gonçalves, das fundações Calouste Gulbenkian, Ricardo Espírito Santo, Medeiros e Almeida, Oriente e Carmona e Costa, no Palácio da Ajuda, em Lisboa. No Porto evidenciam-se exemplares nos museus Soares dos Reis e Guerra Junqueiro.

A partir dos descobrimentos, as porcelanas da Companhia das Índias impuseram-se. 

A nobreza, burguesia e algum clero do nosso País, deslumbrados com a sua expressão criativa, encomendaram-nas e receberam-nas com grande entusiasmo. Um verdadeiro frenesim atravessou os nossos palácios, conventos e igrejas que rapidamente se engrandeceram com elas. As salas de jantar passaram a ostentar sumptuosos serviços de jantar, chá e café (de 200 a 600 peças) utilizados nas refeições diárias. A maioria das famílias encomendam um serviço, mas algumas, como os Condes de Sobral, detinham cinco serviços armoreados.

Os altares das igrejas brilhavam, por sua vez, com potes, canudos e jarras de grande riqueza decorativa.

Maiores coleccionadores

Os portugueses têm sido desde o século XVI os maiores coleccionadores desta porcelana, hoje património mundial. A contribuição que deram para o seu fabrico e expansão foi notável a nivel global. 

A moda chegou à Europa em 1500 servindo o nosso Pais de intermediário entre o Oriente e o Ocidente. 

Os holandeses, ingleses e franceses que nos imitaram preferiam a reprodução de gravuras europeias, de flores, de paisagens orientais e alguns brasões nas peças encomendadas que eram, essencialmente, utilizadas como objectos decorativos e de serviço. No Reino Unido encomendaram-se cerca de 40 mil serviços, enquanto nós portugueses encomendamos quatro mil.

A nossa preferência foi sempre para peças reproduzindo brasões de casas nobres, monogramas e símbolos  religiosos. Este gosto tornou as peças portuguesas de grande raridade e valor.  Entre nós apreciou-se fundamentalmente a s peças azul e branco e da fámília rosa.  As denonimadas folha de Tabaco e família verde tiveram uma menor expressão.

Moda chega aos EUA

No século XIX a moda chegou aos Estados Unidos, onde se encomendaram e iniciaram grandes colecções de porcelana chinesa. 

As nossas peças tornam-se as mais procuradas e valorizadas – o que não tem parado de aumentar. Actualmente os seus preços atingem verbas exorbitantes, sendo disputadas pelos maiores museus e coleccionadores mundiais.

Nos últimos anos assistiram-se a verdadeiros recordes. Um gomil (jarro de lavatório) com as armas do Rei D. Manuel I foi vendido na leiloeira Sothbey`s, em Londres, por 250 mil euros pelo Grupo Espírito Santo. Durante décadas a peça ficou exposta Museu da Fundação Espírito Santo.  O Estado adquiri-o recentemente por 825 mil euros, passando a integrar as colecções do Museu de Arte Antiga.

 No mercado nacional, um par de potes, datado de 1730, chegou aos 75 mil euros; uma terrina setecentista em forma de Javali alcançou 50 mil euros, e um serviço de jantar (composto por 35 peças) do século XVIII, decorado com pavões, ultrapassou os 35 mil euros. 

Actualmente terminou o leilão de uma importante colecção de porcelana da Companhia das Índias. O conjunto era pertença da viúva e filhos de Nuno de Castro, antiquário e especialista na área. 

Ao longo de décadas, Nuno de Castro publicou estudos fundamentais sobre a chamada porcelana chinenesa de encomenda. 

O acontecimento, ocorrido na Cabral Moncada Leilões, despertou, dada a raridade e diversidade das peças, grande interesse. 

Grandes colecções

Outras grandes colecções foram ultimamente dispersas, caso do comandante Alpoim Galvão, do Conde de Caria, dos Marqueses de Mendia, dos Condes de Sobral, do antiquário George Duff, do empresário Jorge de Brito

A Fundação Oriente adquiuu a colecção do embaixador José de Bouza Serrano, composta por 170 peças dos séculos XVII a XIX da dinastia Ming à Quing, com diversas técnicas de coloração desde o azul e branco, família verde, imari chinês e Japonês, Blanc de chine e família negra. A decoração abrange brasões, flores, monogramas e cenas inspiradas em  gravuras marítimas, paisagens, fábulas, temas chineses e ao estilo de Meissen.

A fundação incorporou igualmente a colecção do diplomata Paulo Cunha Alves, que a constituiu ao longo de 25 anos.

“Integrando cerca de 200 objetos de diferentes formas e motivos decorativos, esta coleção de porcelana chinesa de encomenda para o mercado ocidental constitui um acervo de referência na Europa, quer pela dimensão, como pela coerência e abrangência”, conforme  um comunicado do Museu do Oriente.

A colecção possui 200 peças resultado de encomendas inspiradas em diversas fontes iconográficas europeias.

A chegada de Vasco da Gama à Índia, em 1498, e a conquista de Malaca em 1511, marcou o início da chamada Companhia das índias, porcelana chinesa para o mercado ocidental, em que Portugal desempenhou um papel pioneiro como encomendador.

António Brás

António Brás

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