Entusiasmo por Domingos Sequeira

Entusiasmo por Domingos Sequeira

A recente aquisição pela Fundação Livraria Lello, do Porto, do óleo sobre tela “Descida da Cruz” de Domingos Sequeira, por um milhão e duzentos mil euros, provocou surpresa, entusiasmo e invulgar receptividade pela obra do pintor.

Nascido em Lisboa em 1768, estudou inicialmente em Lisboa tendo, no entanto, passado largas temporadas em Roma na Academia de S. Luca, onde foi discípulo de António Cavalucci e Domenico Corvi, sendo distinguido com dois prémios de composição e de desenho.

Domingos Sequeira permaneceu em Itália entre 1788 a 1795, visitando Bolonha, Florença, Milão e Veneza, onde admirou Veronese, Tiepolo e Turner.

As suas pinturas (retratos, paisagens, temas religiosos, motológicos e históricos) refletem um domínio e uma sensibilidade que antecedem as tendências românticas.

A morte de Domingos Sequeira em 1837, em Roma, interrompeu uma das mais brilhantes carreiras internacionais da história da nossa cultura, apenas comparável a Nuno Gonçalves, Grão Vasco, Jorge Afonso, Cristovão de Figueiredo ou Josefa de Óbidos.

Apesar de ser considerado um dos maiores artistas portugueses, o pintor Domingos António de Sequeira, seu nome próprio, só em 1996 foi objecto de uma exposição retrospectiva no Museu de Arte Antiga. A sua obra encontra-se dispersa por inúmeras colecções privadas e públicas em Portugal e noutros países europeus, destacando-se as dos museus de Arte Antiga, Cidade de Lisboa, Municipal de Viana do Castelo, Soares dos Reis, Teixeira Lopes, Patudos, Paço Ducal de Vila Viçosa, palácios de Queluz e da Ajuda.

Inúmeras colecções privadas detêm obras de Sequeira, bem como museus internacionais, caso do Louvre.

Expoentes geracionais

Se Lisboa tem em Domingos Sequeira o expoente máximo das artes plásticas daqueles séculos, o Porto possui-o em Vieira Portuense.

O esforço do Estado em adquirir trabalhos seus tem sido particularmente feliz, caso das  incorporações nos últimos 30 anos, como “A Adoração dos Magos” por 600 mil euros e “A moeda de César”, por valor não anunciado, e preciosos desenhos.

Casa Palmela

A tela “Descida da Cruz” faz parte de um grupo de quatro pinturas, realizadas nos últimos de vida de Domingos Sequeira, em Roma, onde morreu.

Esse conjunto, “Descida Cruz”, data de 1827, “A Adoração dos Reis Magos”, 1826, “Ascensão”, 1829- 1832, e “Juízo Final”, 1829-1832, foi adquirido à filha pintor, em 1845, por 40 mil francos ouro, pelo I Duque de Palmela.

Essas obras estiveram nas paredes do Palácio Palmela, actual Procuradoria- Geral da República, em Lisboa, até 1973. Neste ano o edifício é fechado e o recheio partilhado entre D. Maria do Carmo Pinheiro de Mello e os seus 11 filhos, na sequência da morte do V Duque de Palmela, D, Domingos de Souza Holstein, em 1969.

As obras de Domingos Sequeira são divididas, a “Ascensão“ decora a Sala Azul da Quinta do Calhariz, em Sesimbra, residência da Duquesa de Palmela, a “Adoração dos Magos” fica num palácio em Carnide, o “Juízo Final” num apartamento em Cascais, e a “Descida Cruz” numa casa em Lisboa.

A família Palmela tem vindo a vender grande parte da colecção de arte. O

Museu de Arte Antiga ficou enriquecido com as telas “Banquete de Vasco da Gama na Ilha dos Amores” e “Vasco da Gama presenteando o Samorim de Calecute”, de Vieira Portuense, adquiridas ao pintor por Alexandre de Souza Holstein, pai do I Duque de Palmela, e ainda incorporou o óleo de Matteo Preti, comprado aos herdeiros dos Marqueses de Monfalim.

O Estado adquiriu em 1977 o Palácio Palmela, em Lisboa, pagando 7 mil contos, os restantes 75 mil contos foram descontados de responsabilidades para com a banca nacionalizada. A compra incluiu duas esculturas de Guillaume, um lanternim em bronze, diversos móveis e lustres, e cinco quadros de seguidores de Juan Pantoja de La Cruz.

O Museu Nacional de Arqueologia licitou, em 1999, uma valiosa ânfora grega, a Biblioteca Nacional diversa documentação, e o Museu Nacional do Traje parte do guarda-roupa e duas carruagens inglesas, uma doação da família.

No mercado leiloeiro têm surgido milhares de peças, desde os recheios das casas de Lisboa e Azeitão do Conde da Povoa, filho dos V Duques, passando pelo recheio da Quinta do Esteval, em Azeitão, transacionado pelos herdeiros do Marquês de  Monfalim, outro filho dos V Duques, enquanto pratas da baixela de Paul Storr surgiram em leilões de Genebra e Londres, tapeçarias quinhentistas em Paris, e a pintura “Retrato de Jovem pintor”, Veneza, século XV, surgiu no mercado inglês após licença de exportação do Ministério da Cultura.

A Fundação da Casa de Bragança adquiriu, para o Paço Ducal de Vila Viçosa, mobiliário D. José, um alto-relevo barroco italiano, relógios, cristais, aquários em porcelana da China e dois retratos dos I Duques de Jonh Simpson e Thomas Lawrence.   

O estudo do percurso artístico do pintor deve-se fundamentalmente a José Augusto França, Maria Alice Beaumont e Luiz Xavier da Costa que lhe dedicaram pormenorizados trabalhos quer ao nível das pinturas, quer dos desenhos. A melhor biografia de Sequeira, da autoria do Marquês de Sousa Holstein, nunca foi publicada e perdeu-se, embora não estivesse concluída, segundo a família.

António Brás

António Brás

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