Escola Portuguesa de Arte Equestre I Renascimento da arte equestre em Lisboa

Escola Portuguesa de Arte Equestre I Renascimento da arte equestre em Lisboa

Uma das melhores escolas de equitação do mundo, fundada por D. João V, conhece um período de grande dinamismo.

O Picadeiro Henrique Calado, um grande cavaleiro comandante do Regimento de Lanceiros 2, na Calçada da Ajuda, em Belém, foi recentemente objecto de grandes obras por iniciativa dos Parques de Sintra/Monte da Lua, entidade que administra os palácios de Sintra, Queluz, Monserrate, Pena, Queluz, bem como os respectivos parques.

Estas obras possibilitam a apresentação semanal da Escola Portuguesa de Arte Equestre, em Lisboa. A iniciativa revelou-se um êxito.

Ao longo das últimas décadas, a Escola Portuguesa de Arte Equestre tem realizado entre 40 a 50 sessões anuais, algumas integradas em grandes acontecimentos – caso da Europália, em Bruxelas, dos 600 anos do Tratado de Windsor, em Londres, e do Ano de Portugal, em Chateux, na França. Em cada apresentação entram 10 a 12 cavaleiros, sendo as exibições animadas por trechos musicais de Marcos Portugal e Domingos Bomtempo entre outros. No nosso País temos actuado, por exemplo, nos palácios de Saeteais, em Sintra, no do Correio-Mor, em Loures, no da Brejoeira, em Monção, no Terreiro do Paço, na Expo e na Ajuda.

Desde 1748

Desde 1748 que os cavalos lusitanos se apresentam em espectáculos de grande beleza e sumptuosidade.

A sua raça esteve, no entanto, quase extinta nos anos quarenta do século XX. Restavam apenas dois exemplares puros. Um particular, Rui de Andrade, comprou-os, então, e iniciou a sua reprodução. O Estado adquiriu, por sua vez, nos anos 30, a Coudelaria de Alter do Chão, o que proporcionou a restruturação do sector.

Durante as invasões francesas foram roubados 600, os melhores, dos 800 exemplares existentes.

Após o regresso da corte do Brasil, a instabilidade política e económica provocam novo declínio da arte equestre. Os cavalos passam a ser unicamente utilizados em caçadas nas tapadas dos paços de Vila Viçosa e Mafra, e em algumas cerimónias oficiais.

O Picadeiro-Real, anexo ao Palácio de Belém, em Lisboa, que deixara de ser palco de grandiosos espectáculos, serve apenas de cocheira. A última rainha, D. Amélia de Orleãns, resolve, por sua iniciativa, restaurar o imóvel. As pinturas do tecto são beneficiadas por José Malhoa, o pavimento de areia é substituído por lages de granito, sendo abertas arcadas no piso térreo.

Em 1905 é inaugurado o Museu dos Coches Reais, constituído por 29 viaturas dos séculos XVII a XIX, então dispersas por vários palácios.

Com a proclamação da República os cavalos (considerados um símbolo da Monarquia) passam a ser utilizados em meros exercícios militares.

A recuperação

Um grupo de quatro cavaleiros (Guilherme Borba, José Athayde, Filipe Graciosa e Cancela de Abreu) iniciou, em 1978, a recuperação da arte da equitação. No princípio treinavam à noite no Hipódromo do Campo Grande, levando os seus próprios arreios e custeando a manutenção dos animais.

Os primeiros espectáculos internacionais ocorreram em França e na Holanda, com êxito inesperado. O Estado resolve, talvez por isso, fundar a Escola Portuguesa de Arte Equestre e iniciar a remodelação das antigas cavalarias do Palácio de Queluz. O espaço dava inicialmente para 20 cavalos, mas com apoios da Comunidade Europeia foi construída outro para mais 40 exemplares.

Jardins de Queluz

As apresentações da Escola Portuguesa de Arte Equestre ocorreram inicialmente nos jardins do Palácio de Queluz, havendo um auditório ao ar livre com capacidade para 300 pessoas. Nele realizavam-se de Maio a Outubro sessões diárias, cujo público era constituído maioritariamente por turistas.

Outras sessões foram realizadas em honra de chefes de Estado de visita ao nosso País. O Presidente Reagan dos Estados Unidos e a Rainha Isabel II da Inglaterra foram dos que as mais apreciaram. A monarca, grande especialista em cavalos, não escondeu a sua satisfação, acabando mesmo por receber um puro-lusitano, em 1957, como presente oficial, o mesmo acontecendo com os reis de Marrocos e de Espanha.

O grande contratempo era não haver um picadeiro coberto, era como uma companhia de teatro não ter palco.

A secretaria de Estado da Cultura adquiriu, em 1990, as Oficinas de Material de Guerra, em Belém, para instalar o Museu dos Coches e as cavalariças. O antigo picadeiro seria utilizado como sala de espectáculos. O investimento, orçado em três milhões de contos, dotaria o nosso País de um espaço ao nível dos existentes em Espanha, França e Áustria. Infelizmente nada se concretizou, durante uns anos a Escola de Arte Equestre continuou sem condições de trabalho, chegou-se a apresentar, quando fazia mau tempo, no meio da lama.

250 animais

A Escola Portuguesa de Arte Equestre encontra-se dividida por quatro locais: a Coudelaria de Alter (outrora da Casa de Bragança), em Portalegre, onde os animais nascem, a ilha do Mocho do Salgueiro, no Ribatejo, onde os potros se desenvolvem, Queluz onde se encontram cerca de 40 cavalos, e o Picadeiro Henrique Calado, em Lisboa, palco de apresentações semanais. Para o seu funcionamento existe uma equipa de 25 pessoas entre 12 cavaleiros, tratadores, camionistas e sonorizadores. Os cavalos demoram três anos a ser ensinados tendo uma carreira média de uma década. Quando envelhecem vão para a Coudelaria de Alter do Chão, onde muitos se tornam reprodutores. Existem hoje 250 animais, dos quais 60 se encontram permanentemente em Queluz.

A Escola Portuguesa de Arte Equestre conhece um novo e fascinante período da sua longa história.

António Brás

António Brás

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