Anastácio Gonçalves I Coleccionador rigoroso

Anastácio Gonçalves I Coleccionador rigoroso

Era um homem afável e elegante, sensível e rigoroso, inteligente e caridoso, culto e informado e, sobretudo, de largos horizontes. Anastácio Gonçalves morreu em 1965, rodeado de obras-primas e de objectos de arte, mas sempre discreto, sempre austero.

Era apaixonado por viagens, apreciando museus, palácios e monumentos.

Desde cedo começou a adquirir obras de arte, estabelecendo redes de agentes em Portugal que o mantinham informado dos movimentos do mercado de arte.


A oftamológia era outra paixão sua. Médico de talento e sucesso, tinha vasta clientele, nada cobrando, no entanto, aos mais desfavorecidos.

Uma das suas mais ambiciosas realizações foi a Casa-Museu Anastácio Gonçalves, cujo objectivo era preservar a grande cultura portuguesa.


Juntou na sua residência o mais importante conjunto de pintura naturalista existente entre nós (fabulosas as 26 telas de Silva Porto), o mais completo núcleo de porcelana azul e branca da China (séculos XVI e XVII) e, ainda, relevantes móveis portugueses, franceses, holandeses e ingleses. Completam o acervo pintura europeia, esculturas sacras e profanas, pratas, tapeçarias flamengas, tapetes orientais, azulejos e relógios suiços. A colecção é constituida por 2000 peças, não havendo praticamente obras de segundo plano.


A casa-museu abriu somente em 1980, tendo estado durante 15 anos a cargo de Elisa e Maria Felismina, empregadas de Anastácio Gonçalves.


Na actualidade, a Casa-Museu Anastácio Gonçalves mostra-se um espaço dinâmico, mantendo o vasto acervo em excelentes condições, mostrando inclusive peças há muito nas reservas.


O médico morre a 14 de Fevereiro de 1965, aos 77 anos, em São Petersburgo: o coração traiu-o num hotel após concretizar o acalentado desejo de visitar o Museu do Ermitage.


O coleccionador pedira para os seus restos mortais ficarem na terra onde falecesse, desejo não concretizado, tendo no mês seguinte chegado a Lisboa. “As autoridades soviéticas devolveram todos os bens, mas vestiram-no com um fato-macaco”, revelou-nos o médico Luiz Silveira Botelho.


O mecenas legou em testamento a moradia de Lisboa e o respectivo recheio ao Estado (com o objectivo de albergar uma casa-museu), um prédio à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, os bens em Alcanena, sua terra natal, a um lar de inválidos.
O funeral civil realizou-se no Cemitério dos Prazeres. O médico e coleccionador repousa numa discreta campa perpétua, ao lado da irmã Teodolinda, hoje a cargo daSanta Casa da Misericórdia de Lisboa, apenas identificada pela pelas iniciais AAG.

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                                                                                                                                   António Brás

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