Jogos Olímpicos I Bem mais do que uma grande festa do desporto!

Jogos Olímpicos I Bem mais do que uma grande festa do desporto!

O mundo estava prestes a virar de século quando, em 23 de Junho de 1894, o francês Pierre de Frédy, mais conhecido por Barão de Coubertin, defendeu num congresso por ele promovido na Sorbonne em Paris um evento desportivo internacional periódico. No mesmo congresso, foi criado o Comité Olímpico Internacional (COI) e desta forma assistiu-se ao renascimento dos Jogos Olímpicos da Era Moderna que, tal como na Antiguidade, passariam a ser realizados de 4 em 4 anos.

Coubertin, pedagogo e historiador, fixou o seu lugar na História da forma mais bela e poética porque foi o homem que recuperou da Grécia Antiga um evento que assume a grandiosidade de unir nações numa festa de desporto. Longe vão os tempos quando, na cidade de Olímpia, entre os anos de 776 a.C e 393 d.C., se realizava aquele que era um festival religioso e atlético em honra de Zeus. Um acontecimento capaz de parar guerras e de fortalecer a ligação helénica de um povo tão disperso quanto a geografia a isso obrigava. Ou seja, os Jogos serviam para fortalecer laços e lembrar que todos eram um só povo apesar das suas singularidades regionais e conflitos existentes.

Actualmente, e apesar das polémicas que vão manchando a festa do desporto, os Jogos procuram manter acesso o espírito genuíno de concórdia e amizade numa humanidade quantas vezes esquecida de si. E é também através dos seus símbolos, como os famosos anéis olímpicos que foram igualmente da responsabilidade de Coubertin, que a mensagem se cumpre. Inspirados num padrão gravado num altar grego em Delfos, os emblemáticos anéis, que representam os 5 continentes em competição, exaltam a união dos povos ao mesmo tempo que prestam homenagem à origem dos Jogos Olímpicos. Tendo surgido pela primeira vez em 1920, nos Jogos Olímpicos de Antuérpia, o símbolo olímpico continua actual e é uma forte prova de como uma mensagem poderosa se pode transmitir de uma forma tão simples e perfeita.

Infelizmente, a ideia de união, verdade e paz entre povos são ingredientes que já conheceram melhores cores. A não aplicação de critérios semelhantes que visam penalizar nações em guerra, os casos de recurso a estratégias e substâncias ilícitas e a brutal diferenciação na visibilidade de atletas/modalidades são alguns exemplos. E não deixa de ser lamentável que o entusiasmo e paixão com que se vivem os Jogos esmoreça tão rapidamente quanto a chama olímpica quando, na cerimónia de encerramento, é extinta. De igual forma seria salutar uma melhor educação desportiva que visasse um conhecimento claro de todo o trabalho que marca a vida de cada atleta gerando um inequívoco respeito pelo esforço, abnegação e capacidade de resiliência que compõem o caminho de cada um que nos palcos onde decorrem as competições, se expõe e arrisca numa entrega total. Porque a proeza de conseguir ali chegar é já de si uma vitória ao alcance de poucos, muito poucos, mas muitas vezes é desprezada numa clara manifestação de profunda ignorância.

A mensagem dos Jogos atravessa o tempo e fronteiras, vence barreiras, impulsiona saltos de gigante na vida de muitos, ensina a respeitar regras e limites, a entender que a festa se faz com todos e não apenas com os vitoriosos e traz consigo o melhor década um de nós.  Por isso, a emoção dos Jogos deve permanecer viva na alma de cada um. Mas também é fundamental que o espírito olímpico não seja apagado nas opções de uma comunicação social que parece só conhecer o futebol e nas contas de um Estado que não pode limitar-se a umas cerimónias de condecoração e discursos de circunstância quadrienais.

E é por estas razões que, agora, em Outubro, estamos a falar dos Jogos que encheram páginas e horas televisivas em Agosto e infelizmente não tiveram a mesma visibilidade nos paralímpicos que se seguiram. Passaram dois meses e já ninguém fala do investimento necessário para que a paixão pelo desporto não acabe e se abram mais horizontes do que os que um retângulo relvado com duas balizas suscita.

Porque para as crianças deste país, tão pouco habituadas ao esforço e capacidade de sacrifício e disciplina, o desporto encarado não apenas como diversão, mas como estratégia de crescimento, deve ser uma presença constante e não apenas uma festa celebrada de 4 em 4 anos. 

Ana Paula Timóteo

Paula Timóteo

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