Tamara de Lempicka I Uma nova perspetiva sobre a artista
A exposição Tamara de Lempicka com mais de 150 obras apresenta uma nova perspetiva sobre a artista, a sua vida e a sua obra.
Através do seu estilo de vida liberal e glamoroso, a artista Tamara de Lempicka (1894-1980) tornou-se sinónimo do espírito despreocupado e da opulência da década de 1920. As suas pinturas, que combinam um estilo figural clássico com a energia moderna da vanguarda internacional, destacaram Lempicka como uma das pintoras definidoras da Art Déco, com uma influência duradoura na paisagem da cultura pop actual.
A mostra foi inaugurada no de Young dos Fine Arts Museums of San Francisco, São Francisco a 12 de Outubro de 2024 e está em exibição até 9 de Fevereiro de 2025, Tamara de Lempicka é a primeira retrospetiva sobre o trabalho da artista nos Estados Unidos, explorando as influências artísticas de Lempicka e revelando o processo subjacente às obras que se tornaram sinónimo de Art Déco. Após a sua apresentação no de Young, a exposição viajará para Houston e estará patente no Museum of Fine Arts, Houston, de 9 de Março a 26 de Maio de 2025.
A Retrospetiva Tamara de Lempicka – a primeira mostra nos Estados Unidos dedicada à obra completa da artista – revela um novo olhar sobre a sua vida e prática da pintura. Para além dos seus célebres retratos, as mais de 150 obras expostas incluíem também uma série de desenhos raramente vistos, naturezas mortas experimentais dos primeiros anos parisienses de Lempicka, interiores domésticos melancólicos, assim como uma selecção de objectos, esculturas e vestidos Art Deco da coleçcão dos Fine Arts Museums de San Francisco, que oferecem uma perspetiva do processo e do contexto histórico da artista. A exposição é co-curada por Furio Rinaldi e Gioia Mori.
Acerca deste evento, Thomas P. Campbell, Director e CEO dos Fine Arts Museums de San Francisco, afirmou: “Estamos entusiasmados por apresentar a primeira grande retrospectiva do trabalho de Tamara de Lempicka nos Estados Unidos. Como uma das mais proeminentes pintoras de retratos do período Art Deco, há muito tempo, que se impunha uma análise académica da sua produção artística para um público norte-americano. Tendo em conta a história de São Francisco como a grande capital mundial da Art Déco, a exposição é apresentada de forma apropriada na proximidade de marcos do período, como a Ponte Golden Gate e a Coit Tower, que contribuiram para a nossa compreensão não só do trabalho de Lempicka especificamente, mas também deste influente período de arte e design em geral.”
Tamara de Lempicka desenrola-se cronologicamente em quatro grandes capítulos que marcaram as etapas da vida da pintora através da sua identidade em mudança: “Tamara Rosa Hurwitz” (o seu nome de nascimento recentemente revelado), ‘Senhora Łempitzky’, ‘Tamara de Lempicka’ e ‘Baronesa Kuffner’. As diferentes secções da exposição apresentam a evolução do seu estilo artístico e resumem os temas mais predominantes do seu trabalho. A mostra inclui naturezas mortas emocionantes e experimentais dos primeiros anos parisienses de Lempicka, obras figurativas inspiradas nas vanguardas russas, a estética cubista do seu professor, o pintor cubista francês André Lhote, assim como o seu apreço pela obra de pintores neoclássicos do século XVIII, como Jean-Auguste-Dominique Ingres.
As obras de Tamara realizadas com uma técnica polida, os retratos em exposição reflectem figuras influentes na vida de Lempicka, incluindo as suas musas e amantes (o poeta Ira Perrot, a modelo Rafaëla e o Marquês Guido Sommi Picenardi), retratos da sua filha, Marie-Christine “Kizette”, e dos seus dois maridos, Tadeusz Łempicki e o Barão Raoul Kuffner de Dioszegh. Figuras ilustres das deslumbrantes cenas cosmopolitas europeias e americanas da década de 1920 são também apresentadas de forma proeminente, uma vez que Lempicka foi muitas vezes solicitada pela elite durante o auge do seu sucesso para pintar retratos imponentes, ousados e por vezes intimidantes.
“A combinação de influências artísticas variadas na Europa durante o período entre guerras constitui os ingredientes para a linguagem visual única de Lempicka, uma mistura cativante e única de classicismo e modernismo”, explicou Gioia Mori, co-curador da exposição, professor de História da Arte Contemporânea e um dos principais estudiosos de Lempicka. “Após décadas de investigação, esta exposição constituiu a oportunidade de investigar a primeira estadia de Lempicka nos Estados Unidos, na primavera de 1929. Chegou primeiro a Nova Iorque e depois viajou para Santa Fé e São Francisco. Nesta última cidade, expôs em 1930 na então célebre Galerie Beaux Arts. A relação de Lempicka com São Francisco continuou até 1941, quando expôs uma selecção dos seus últimos trabalhos na Galeria Courvoisier em Geary.”
A investigação que conduziu a este evento permitiu aos curadores clarificar aspectos biográficos cruciais e inéditos da vida de Lempicka. A artista nasceu no seio de uma família polaca de ascendência judaica em 1894 (e não em 1898, 1900 ou 1902, como anteriormente se afirmara), com o nome de nascimento Tamara Rosa Hurwitz. Mudou-se para a Rússia com a sua família, onde casou com Tadeusz Łempicki em 1916. A sua única filha, Marie Christine “Kizette”, nasceu no mesmo ano. Apesar de se terem divorciado em 1929, Lempicka continuou a usar o nome do seu primeiro marido para assinar as suas obras de arte durante toda a sua vida.
Após os tumultos da Revolução Russa, em Outubro de 1917, Lempicka fugiu para Paris, onde chegou em 1919 e permaneceu durante toda a década de 1930. Sendo uma poliglota cosmopolita, abertamente bissexual, que tinha vivido em vários países europeus, Lempicka prosperou em Paris e assumiu sem esforço a identidade e o estilo de vida de uma parisiense transgressora, despreocupada e que definia tendências. No início da sua carreira, Lempicka optou por assinar as suas obras usando a declinação masculina do seu apelido, “Lempitzky”, disfarçando efectivamente o seu género e aumentando a confusão em torno da sua história de origem. No entanto, ao assinar mais tarde as suas obras com “Lempitzka” e “Lempicka”, revelou a sua identidade feminina.
Tamara de Lempicka e Tadeusz Łempicki divorciaram-se em 1929 e, em 1934, casou-se com o Barão Raoul Kuffner de Dioszegh, um nobre judeu húngaro da actual Eslováquia. Em Fevereiro de 1939, Lempicka partiu de Paris para os Estados Unidos para assistir a uma exposição organizada em Nova Iorque. Esta viagem permitiu-lhe não assistir à trágica ocupação nazi da Polónia e de Paris em 1939 e 1940. Durante a sua estadia nos Estados Unidos, Lempicka viveu em Beverly Hills e na cidade de Nova Iorque, acabando por se juntar à sua filha Kizette (apelido de casada Foxhall) em Houston. Pouco depois de ter sido redescoberta como um ícone da Art Déco em meados da década de 1970, morreu na sua casa em Cuernavaca, México, em 1980.
São também apresentadas as pinturas de Lempicka dos anos 30 e finais dos anos 40, realizadas durante a sua partida da Europa em 1939. Muitas destas naturezas mortas melancólicas e interiores domésticos são definidos por uma técnica pictórica polida e um processo deliberado que Lempicka foi buscar aos mestres da pintura italiana e flamenga.
“A exposição resulta da recente aquisição pelos Fine Arts Museums de San Francisco, de um desenho de Lempicka, um retrato da sua filha Kizette, que é apresentado ao público pela primeira vez na mostra. Reflexo da sua meticulosa formação académica em Paris, os desenhos de Lempicka revelam tanto o seu extraordinário refinamento técnico como desenhadora como o seu fôlego de fontes visuais, no centro do seu estilo único – do maneirismo italiano ao neoclassicismo francês, a vanguarda russa e a linguagem gráfica inovadora de ilustradores de moda como George Barbier, Helen Dryden e Georges Lepape”, afirmou Furio Rinaldi, co-curador da exposição e curador responsável pela Fundação Achenbach para as Artes Gráficas nos Fine Arts Museums de San Francisco. “A mostra para além de celebrar a personalidade Art Déco de Tamara de Lempicka revela também as influências artísticas da pintora, demonstrando como o seu apreço e conhecimento da história da arte europeia informaram o seu processo de design deliberado por detrás das suas pinturas memoráveis.”
A exposição inclui também uma secção especial sobre a relação entre Lempicka e a moda nas décadas de 1920 e 1930, demonstrada através das obras que produziu para a revista de moda alemã Die Dame – incluindo a célebre capa “Self-Portrait on a Green Bugatti”. Esta relação é também demonstrada através das peças de vestuário da colecção de trajes e artes têxteis dos Museus, com vestuário produzido pelas designers pioneiras Callot Soeurs, Madeleine Vionnet e Madame Grès, e caracterizado pela elegância e facilidade de movimento físico, assim como por um interesse renovado na forma natural do corpo das mulheres.
Lempicka encarnou a independência de um tipo dinâmico da “Nova Mulher”, capaz de moldar a sua própria personalidade e caminho através de modos de vestir elegantes. As modas de alta costura representadas nas pinturas de Lempicka, como o Retrato de Ira P. ou a Rapariga de Verde, captam vividamente a pluralidade de estilos de vestuário disponíveis para as mulheres durante o período entre guerras e ilustram a beleza moderna, a feminilidade poderosa e o estatuto de Lempicka entre os parisienses da classe alta.
Theresa Beco de Lobo