Arte e Moda I Peças de Referência

Arte e Moda I Peças de Referência

O Musée du Louvre apresenta, a primeira grande exposição “Louvre Couture: Arte e Moda: Peças de Referência”, que coloca as obras-primas da moda moderna – e a sua inspiração – no contexto mais vasto da história e das artes decorativas francesas.

Esta mostra é a primeira exposição de moda no célebre museu parisiense nos seus 231 anos de história.

A par de tapeçarias, armaduras, jóias, esmaltes, ourivesaria, bronzes, marcenaria, porcelanas e outras decorações que encarnam a glória do artesanato francês, são apresentados ao lado das peças de vestuário de 45 casas e designers, entre os quais Balenciaga, de Cristobal e Demna, Hubert de Givenchy, Christian Dior de John Galliano e Maria Grazia Chiuri, Schiaparelli de Daniel Roseberry, Nicolas Ghesquière para a Louis Vuitton e peças de colecções finais – de Karl Lagerfeld para a Chanel e de Gianni Versace – assim como de marcas independentes de renome como Marine Serre, Erdem, Undercover, Thom Browne e Iris van Herpen.

No total, cerca de 100 peças de alta-costura, pronto-a-vestir e acessórios que datam de 1949 até aos dias de hoje estão espalhados pelo departamento das Artes Decorativas no primeiro andar da ala Richelieu.

Estas peças de vestuário não estão dispostas entre as célebres pinturas e esculturas de mármore do Louvre, mas nos quase 100.000 metros quadrados do departamento de artes decorativas.

O departamento das Artes Decorativas, cuja colecção vai desde a Idade Média até ao início do século XIX, está repleto de milhares de objectos: armaduras medievais, tapeçarias renascentistas, marfins esculpidos, bronzes, cerâmicas, pratas imperiais e mobiliário.

Acerca da colecção das Artes Decorativas, Olivier Gabet, director desse departamento, disse: “Não é fácil entrar no nosso museu, especialmente na nossa colecção. O nosso objectivo é fazer com que mais pessoas e mais jovens, se sintam felizes, livres e descontraídas quando vêm aqui. A moda será uma ponte para nós”.

Com esta mostra, inaugurada a 24 de Janeiro, o Louvre junta-se às instituições de arte que descobriram como utilizar a cultura popular do vestuário como porta de entrada para o mundo da arte. E, mais do que nunca, a moda está a seduzir os museus e os espaços artísticos franceses.

Duas semanas antes da abertura da exposição do Louvre, o Grand Palais, em Paris recentemente renovado, inaugurou o seu próprio espectáculo de moda: “Do Coração para as Mãos: Dolce & Gabbana.” Este evento foi inaugurado em Milão na primavera passada, esta retrospectiva itinerante dos trajes apresenta mais de 200 criações da casa em instalações de vídeo imersivas e cenários elaborados.

No mês de Fevereiro, o Musée du Quai Branly, em Paris apresenta a mostra: “Golden Thread” com a colecção de obras africanas, oceânicas, americanas e asiáticas, centrada na arte de utilizar o ouro para adornar vestuário e jóias. Em Maio, o Petit Palais, em Paris, irá exibir  “Worth: O Nascimento da Alta Costura”, uma retrospetiva sobre a vida e a obra do costureiro britânico Charles Frederick Worth (1825-1895).

Dois museus de moda, um com colecções pertencentes ao Musée des Arts Décoratifs e o outro ao Palais Galliera, todos em Paris, apresentam desde há muito colecções permanentes e exposições temporárias deslumbrantes. Mais recentemente, grupos de luxo como LVMH e Kering abriram os seus próprios espaços de exposição de arte. E Saint Laurent, Dior e Alaïa criaram espaços permanentes para mostrar o seu trabalho.

Acerca dos museus de arte apresentarem colecções de moda, Pamela Golbin, ex- -curadora-chefe de moda e têxteis do Musée des Arts Décoratifs, afirmou:. “Há décadas que os museus e a moda dançam um com o outro. Agora há uma verdadeira aproximação. Nem sempre é um emparelhamento bem-sucedido, mas se despertar o interesse do público – se este conseguir ver a arte de forma diferente – é uma óptima forma de usar o poder da moda.”

O exemplo que define esta abordagem é, obviamente, o Metropolitan Museum of Art em Nova Iorque, onde os espectáculos de sucesso do Costume Institute estão entre os mais visitados do museu todos os anos. Reconhecendo a capacidade da moda para atrair visitantes, o Met está a meio de uma renovação que irá transferir o departamento de moda da cave, onde historicamente tem estado situado, para a antiga loja de recordações no Great Hall, a majestosa entrada principal.

Desde que Laurence des Cars assumiu a direcção do museu em 2021, tem-se esforçado por atrair para o Louvre os visitantes que regressam, um público mais jovem e mais parisienses. Abriu o museu em algumas noites, organizou concertos e espectáculos teatrais e experimentou um circuito de dança e exercício. A nova exposição de moda insere-se perfeitamente nesta estratégia.

De facto, a Sra. des Cars manifesta tanta admiração pelas iniciativas do Met que alguns dos seus curadores se queixam de que ela é obcecada pelo Met.

Não é por acaso que o Louvre – talvez num ligeiro eco da Met Gala – está a associar a nova exposição de moda a uma gala de angariação de fundos, “Le Grand Dîner du Louvre”, durante a Semana da Moda de Paris, em Março. O jantar será servido entre as esculturas de mármore no Cour Marly, com telhado de vidro, e será seguido de um baile sob a pirâmide. Mais de 30 mesas foram postas à venda e o objectivo de angariação de fundos de um milhão de euros já foi ultrapassado, informou o museu.

Esta exposição é o próximo passo natural para o Louvre, que já entrou no mundo da moda. Em 2022, foi um dos seis prestigiados museus franceses que comemoraram o 60º aniversário da casa de Saint Laurent, exibindo 50 das suas criações nas suas colecções permanentes. O Louvre colocou quatro dos seus casacos bordados com pedras perto das jóias da coroa francesa na sua Galeria Apollo dourada.

Actualmente, o pequeno Musée National Eugène-Delacroix, que pertence ao Louvre, tem uma exposição intitulada “Estados de (Des)vestir: Delacroix e o vestuário”, que explora o cuidado com que o artista escolhia a sua roupa nos seus quadros. E em Março, o Louvre-Lens, o museu satélite do Louvre no norte de França, abrirá uma exposição intitulada “A Arte de Vestir: Vestir-se como um Artista”, que examina o que os artistas escolhiam para vestir e porquê, desde o Renascimento até à actualidade.

Acerca da exposição do Louvre, Bruno Racine, antigo director da Biblioteca Nacional de França que dirige agora o Palazzo Grassi em Veneza, que pertence ao bilionário francês François Pinault, fundador do grupo de luxo Kering, disse: “Os historiadores da arte têm muitas vezes de conhecer a história do vestuário para conhecerem a história da arte. Isto não é nada artificial.

O Louvre nunca poderá igualar o Metropolitan Museum of Art no que diz respeito à moda. Ao contrário do Met, o Louvre não é um museu privado, mas uma instituição hierárquica, gerida pelo Estado, com um orçamento limitado, que recebe ordens do Ministério da Cultura e, em última análise, do Presidente francês.

Mas, pelo menos por enquanto, o departamento de artes decorativas do Louvre tem um dos melhores cenários para mostrar a moda – nomeadamente, os apartamentos do imperador Napoleão III. O Salon-Theatre, com 40 metros de altura, transpira magnificência com lustres de cristal, um tetco cheio de frescos e ornamentação em estuque folheado a ouro com vasos de flores e anjos a tocar instrumentos.

Um manequim com um vestido de baile em seda vermelha bordada e veludo cortado, com uma bainha profunda em arminho, desenhado por John Galliano para Christian Dior, está colocado no centro do Salon. O vestido combina perfeitamente com o ambiente com os estofos e cortinados de veludo vermelho do Salão. A manequim parece estar perfeitamente nessa sala.

Acerca da exposição” Louvre Couture”, o designer americano e presidente do CFDA Thom Browne, cujos conjuntos de pronto-a-vestir primavera-verão 2020, lembram os cestos do século XVIII, são complementados por painéis pintados da era Regência na sala de época Isaac de Camondo do Louvre, disse: “É muito importante ver a moda elevada ao mais alto nível em alguns dos maiores museus do mundo. É ainda mais importante que as pessoas que vêm a estas instituições possam ver o trabalho fantástico que muitos de nós temos o privilégio de ver pessoalmente.”

As peças agora expostas no “Louvre Couture” não são apresentadas sem objectivos no Departamento de Artes Decorativas, mas serviram antes como ocasião para realçar os paralelismos existentes: o departamento deve parte da sua colecção à generosidade de grandes figuras da moda, de Jacques Doucet a Madame Carven. Estas inúmeras ligações abraçam um terreno metodológico comum nos domínios da história da arte e da moda.

“Louvre Couture” oferece uma nova perspetiva das artes decorativas através do prisma do design de moda contemporâneo.

Theresa Bêco de Lobo

Theresa Bêco de Lobo

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