A Arte de Vestir I Destacar-se como um Artista

A Arte de Vestir I Destacar-se como um Artista

O vestuário, o traje e a indumentária são, desde há muito, parte integrante da personalidade artística: dos turbantes de Rembrandt aos longos xailes de Vigée-Lebrun; de George Sand vestida de homem aos estudos de Rodin para o roupão de Balzac e Marcel Duchamp assumindo o disfarce de Rose Sélavy, e dos vestidos simultâneos de Sonia Delaunay à peruca de Andy Warhol… As peças de vestuário escolhidas pelo artista revelam uma identidade e uma verdade artística que é simultaneamente íntima e pública. Esta exposição examina as formas como os artistas são representados, tanto por eles próprios como por outros. O que está por detrás da escolha de um determinado vestuário? O autorretrato, tal como a representação de um artista por um dos seus pares, é um género distinto que pode revelar tanto sobre uma época ou uma intenção artística como sobre concepções do lugar do artista na sociedade.

A exposição: “A Arte de Vestir, como um Artista” patente no Musée du Louvre-Lens, até 21 de Julho de 2025, analisa a história destas representações, recorrendo a pinturas, esculturas e desenhos, desde o Renascimento até à atualidade, passando por fotografias, vestuário e acessórios. Com cerca de 200 obras, a mostra propõe assim uma análise da história da moda masculina e feminina e dos próprios artistas, reflectindo sobre o que o vestuário pode significar em termos de expressão pessoal e artística.

Revisita momentos em que uma peça de vestuário se tornou uma extensão da interrogação do artista, quando o protagonista e o traje eram um só. A exposição também destaca as muitas colaborações e cruzamentos entre os mundos da arte e da moda, entre artistas, costureiros e designers.

Na vertente contemporânea deste projecto, a exposição debruça-se sobre as formas como o vestuário pode tornar-se uma obra de arte por direito próprio. Destaca artistas que criaram as suas pinturas e esculturas, que transformaram as suas roupas do dia a dia em extensões do seu trabalho (Niki de Saint Phalle, Yayoi Kusama), que fazem do “cross-dressing” (que se refere ao acto de alguém possuir uma expressão de género roupas ou acessórios associados ao género oposto) um acto artístico (Claude Cahun, Marcel Bascoulard, Grayson Perry) e outros artistas que fazem de si próprios a matéria-prima do seu trabalho e que vestem roupas para o executar. A mostra apresenta artistas que criaram vestuário colectivo para reunir pessoas (como Nicola L) e outros que reconsideraram o vestuário tradicional de forma espetacular (como Fujita).

Nos últimos anos, tem-se assistido a uma proliferação de colaborações produtivas entre criadores e designers, a indústria da moda e os artistas. Apresentando vários exemplos desta colaboração, a exposição apresenta factos para os quais se inspiraram obras e artistas históricos, quer se trate de costureiros lendários do passado, como Elsa Schiaparelli ou Yves Saint-Laurent, quer de criadores da cena contemporânea.

Elsa Schiaparelli influenciou-se nas obras de Salvador Dali para as suas criações de moda, como o vestido das gavetas de Elsa, que foi criado através da obra de arte, a “Venus de Milo com Gavetas” (1936) de Salvador Dali e o vestido esqueleto, que foi inspirado nos desenhos (1938) de Salvador Dali.

Yves Saint-Laurent apresentou várias colecções inspiradas em pintores, como a homenagem que fez a Braque e Picasso com vários modelos de vestidos (1965) e especialmente os referentes aos pássaros dos “Papiers Collés” (1912) de Braque nos vestidos da Colecção Primavera/Verão 1988. Yves Saint-Laurent fez também homenagem a Vincent Van Gogh com as pinturas icónicas “Íris” (1890) e “Girassóis” (1888), que aplicou em casacos de lantejoulas em (1988).

A presente exposição analisa a história destas representações, recorrendo a pinturas, esculturas e desenhos, desde o Renascimento até à actualidade, assim como a fotografias, vestuário e acessórios. A mostra propõe, assim, uma análise da história da moda e dos próprios artistas, reflectindo sobre o que o vestuário pode significar em termos de expressão pessoal e artística.

Theresa Bêco Lobo

Theresa Bêco de Lobo

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