Dia da Mãe I Mãe é para sempre

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Os pais são figuras tão profundamente estruturantes e umbilicais nas nossas vidas que a eles se associam ideais espirituais, ligados quer ao cristianismo quer a uma visão animista porque tanto falamos de Deus Pai quando nos referimos a Deus, como nos referimos à Mãe Natureza ou Terra Mãe quando pensamos no planeta que nos acolhe.

Em relação à palavra “mãe”, esta terá tido uma sua ancestral correspondência com «*méh₂tēr» (o asterisco serve para mostrar que a palavra é uma reconstrução e o h₂ é uma forma de representar um certo som para o qual não temos nem letra nem certezas) palavra nascida naquela que se considera ser a língua que deu origem a muitas das faladas nos continentes europeu e asiático e que pertence à família linguística indo-europeia. E essa pequena palavra reconstruída terá dado origem à «mother» inglesa, à «mâdar» persa, à «mitéra» grega, à «matʹ»russa, à «māte», letã, à irlandesa «máthair» e à «mater» latina, que ganharia a sua tonalidade nasal que tantos sarilhos fonéticos provocam aos estrangeiros.

Mas seja em que língua for que pensemos na nossa mãe, enquanto ser que nos criou no misterioso código do amor absoluto, podendo até ser outra figura que não exactamente a mãe biológica, logo surge inevitavelmente a imagem de alguém que nos protege, defende e se assume como o garante da vida. Idealmente, a mãe é aquela figura central numa família que consegue alcançar consensos, restabelecer equilíbrios, adoçar com favos de mel medos e angústias. Mãe é quem traz consigo uma sabedoria incomparável. Mãe é o lar para onde regressamos de olhos fechados e alma em festa.

Não será por acaso que diante uma situação dolorosa é da mãe que nos lembramos, é a ela que apelamos pela presença.

Apesar da celebração do Dia da Mãe ser historicamente recente, a maternidade é festejada pelo menos desde que o homem aprendeu a construir pequenos objectos de arte móvel. Na arte do Paleolítico, as figuras femininas não abundam, apesar de em maior número que as masculinas, mas têm animado a investigação e o debate interpretativo. Dos estudos realizados, parece ser consensual que as pequenas estatuetas são representações de deusas da fertilidade e da reprodução, representações mitológicas às quais se atribuíram qualidades que propiciariam a fecundidade feminina. Contudo, e apesar desta homenagem ao universo feminino, foi apenas há pouco mais de um século que se passou a dedicar um dia do calendário, variável de país para país, para homenagear as mães numa profusão de poemas e tradições que se vão adaptando aos tempos e vontades.

Tudo começou nos EUA quando a ativista Ann Maria Reeves Jarvis fundou em 1858 os Mothers Days Works Clubs com o objetivo de diminuir a mortalidade de crianças em famílias de trabalhadores e em 1865 organizou o Mother’s Friendship Days (dias de amizade para as mães) para melhorar as condições dos feridos na Guerra de Secessão. Dois anos após a sua morte, em 1907, a filha, Anna Jarvis, cria um memorial e começa a sua campanha para que o Dia das Mães fosse um feriado reconhecido.

Em Portugal, o Dia da Mãe é comemorado no primeiro domingo de Maio, seguindo a tradição da Igreja Católica que, neste mês, celebra Santa Maria, Mãe de Jesus.  

Tradicionalmente, as mães recebem entre beijos e abraços, algumas lembranças. Algumas feitas pelos próprios filhos, especialmente quando são crianças, como um desenho ou pintura que trazem da escola, ou um poema escrito, ou até um adereço, outras, trazidas com o mesmo amor, tanto podem ser umas flores colhidas no jardim ou uma oferta que pode ser comprada, mas que não representará menos o desejo em homenagear a mulher mais importante das suas vidas.

O tempo é voraz, um pestanejar rápido da alma, mas as mães, mesmo depois de partirem do mundo dos vivos, mantêm-se vivas e pulsantes e amenizam o nosso próprio envelhecimento porque as encontramos sempre nas memórias que nos forram o carácter e nos ditam os dias.

No dia da Mãe, não nos recordamos mais das nossas do que em outros dias ou, pelo menos, não seria de supor, mas não deixa de ser uma oportunidade de as honrar num coro uníssono e por isso, em cada 1º domingo de todos os Maios das nossas vidas, façamos desse dia um pretexto de festa com generosa dose de beijos, porção reforçada de abraços temperada com colheradas de alegria, tudo fermentado no calor dos afectos e cozinhado em lume festivo. 

Mãe é para sempre, mesmo quando já não sentimos as suas mãos nas nossas, o seu rosto colado ao nosso. Mãe será sempre a mais sábia de todas as pessoas e o grande colo que nos desvenda com sabedoria, nos acolhe e nos beija.

Paula Timóteo

Paula Timóteo

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