Hiroshige I Artista da Estrada Aberta

O British Museum, em Londres apresenta até 7 de Setembro de 2025 um novo olhar sobre a carreira e o legado de um dos artistas mais célebres do Japão numa notável exposição, que celebra a vida, a obra de Utagawa Hiroshige (1797–1858). A forma sensível e envolvente de Hiroshige de retratar paisagens, a natureza e a vida quotidiana no Japão encantou o público da sua época — e continua a influenciar e inspirar.

A primeira exposição dedicada a Hiroshige em Londres num quarto de século — e a primeira realizada no British Museum: “Hiroshige: Artista da Estrada Aberta” apresenta este importante artista japonês por meio das suas gravuras, pinturas, livros e esboços.

A grande maioria das gravuras da exposição nunca foi exibida antes, e várias delas são consideradas os únicos exemplares sobreviventes do seu género no no mundo. A mostra marca uma importante doação de 35 gravuras de Hiroshige aos “American Friends of the British Museum”, provenientes da colecção de Alan Medaugh, um dos maiores coleccionadores da obra do artista nos Estados Unidos da América. Estas obras são exibidas ao lado de outras 82 gravuras impressionantes de Hiroshige, generosamente emprestadas por Medaugh, além de empréstimos nacionais e internacionais importantes e obras seleccionadas da colecção do próprio Museu.

A carreira de 40 anos de Utagawa Hiroshige coincidiu com as últimas décadas do período Edo no Japão (1615–1868), uma época de rápidas mudanças que prenunciava o fim do domínio dos samurais. À medida que o Japão enfrentava o mundo externo e as pressões da modernização, a visão artística serena de Hiroshige oferecia um senso de continuidade e esperança. Ao longo de cerca de 5.000 desenhos para gravuras policromadas, além de centenas de pinturas e dezenas de livros ilustrados, ele proporcionou prazer estético e consolo emocional a pessoas de todos os níveis sociais numa era de transformação.

Desde figuras da moda no seu início de carreira até imagens tranquilas de cidades, paisagens remotas e impressões da natureza nos seus anos mais maduros, Hiroshige captou muitos aspectos da vida no Japão da sua época. Um colorista de grande talento, que descobriu uma forma lírica na experiência da viagem e no vínculo entre as pessoas e o mundo natural. Em séries de paisagens como “As Cinquenta e Três Estações da Estrada Tōkaidō” (1833–35), expressou o crescente interesse pelo turismo doméstico, dedicando mais de 20 séries apenas a essa estrada.

Vinte anos depois, com novo vigor, produziu a série Cem Vistas Famosas de Edo (1856–58), na qual expandiu audaciosamente o conceito clássico de “lugares célebres” (meisho). As suas gravuras de paisagem tornaram-se lembranças preciosas e veículos de fuga imaginativa. Não eram representações rigorosas dos locais, mas evocações nas quais combinava observação directa e estudo de guias de viagem com criatividade artística e ressonância cultural. Uma secção completa da exposição explora as suas principais séries de viagem e apresenta alguns dos melhores exemplares sobreviventes de designs importantes da série “Cem Vistas”, além de exemplares preservados de obras menos conhecidas.

Acerca da obra de Hiroshige, Alfred Haft, curador do Projeto JTI para as Colecções Japonesas, disse: “É uma honra compartilhar a visão serena de Hiroshige sobre a paisagem japonesa por meio das magníficas obras da colecção excepcional de Alan Medaugh. Nos conturbados últimos anos do domínio samurai, o senso de equilíbrio e calma de Hiroshige captou a imaginação dos seus contemporâneos de todas as classes sociais — e continua a ser fonte de inspiração até hoje.” E Nicholas Cullinan, Director do British Museum, comentou: “As notáveis gravuras de Hiroshige imortalizam a beleza e cultura únicas do Japão, fundindo profundidade emocional com brilhantismo técnico. Sua influência transcende gerações e continua a moldar artistas no mundo inteiro. Sou imensamente grato ao Sr. Alan Medaugh por sua generosidade ao Museu. Sem seu apoio, essa extraordinária exposição não seria possível.” Alan Medaugh comentou ainda: “Para mim, esta exposição no British Museum é a melhor forma de manter viva a arte de Hiroshige. A força artística de Hiroshige está no uso da cor para transmitir sentimentos, os quais infelizmente se tornam mais fugazes com o tempo. Tive o privilégio de colecionar suas obras por mais de 50 anos e é meu sincero desejo que, ao compartilhar essas peças, eu possa ajudar a revelar a beleza atemporal e a profundidade de sua arte.”

Dotado de habilidades técnicas extraordinárias tanto como colorista quanto como desenhista, Hiroshige destacou-se também por transpor barreiras sociais. Nascido numa família samurai, escolheu criar arte acessível para um público popular. Essa visão inclusiva é evidente nos seus desenhos para leques impressos de mão (uchiwa-e), uma forma de arte prática, acessível e descartável que servia para levar beleza ao quotidiano. Esse aspecto da sua obra raramente é exibido fora do Japão e é um dos principais focos da mostra. Exemplares únicos, como os da série “Oito Vistas das Estações ao Longo das Estradas Principal e Secundária” (cerca 1839), estão exibidos pela primeira vez.

Também estão em exibição as suas requintadas gravuras de pássaros e flores, produzidas ao longo da carreira, que reflectem tanto a sua elegância artística natural quanto o alto nível de alfabetização da época, pois frequentemente incluem poemas japoneses ou chineses em caligrafia fluente. Demonstrando uma apreciação pela arte compartilhada entre diferentes classes sociais, essas obras destacam as profundas conexões entre natureza, arte e poesia na cultura japonesa.

Além de explorar os diversos talentos de Hiroshige, a exposição considera o seu legado global e como as suas composições inovadoras, cores vibrantes e profundo domínio da perspectiva pictórica inspiraram mestres europeus como Van Gogh e Whistler, assim como artistas contemporâneos de todo o mundo, incluindo Julian Opie. 

A mostra “Hiroshige: Artista da Estrada Aberta” oferece ao público um vívido panorama do mundo de Hiroshige, onde natureza, cultura e imaginação coexistem harmoniosamente, e reforça a sua posição como um visionário artístico de importância internacional.

Theresa Bêco de Lobo

Theresa Bêco de Lobo

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